De costas para as artes

Protejamos os rios em suas nascentes,

em seus berçários.

Eles nascem puros, sagrados e cristalinos,

assim como meninos saudáveis

e assim o são e grandes se tornarão,

também como as crianças,

a depender dos nossos cuidados,

dos nossos comprometimentos,

pois todos somos integrantes

de uma bola só, de um só sistema,

temas dos mais diversos,

mas um teorema complicadíssimo,

quando se trata de nos integrarmos com ele.

Quem mais conhece os rios é a ingazeira,

que se debruça sobre eles,

numa linda reverência,

carregadinha,

para o deleite dos meninos

em suas mergulhadas

e para os peixes de superfície,

depois de finda a farra do banho.

E eles também têm febre,

se engasgam com as garrafas plásticas,

se sentem desprotegidos,

se sentem meio vesgos,

sem suas matas ciliares,

sob os mais diversos olhares,

mas bem poucos são para a sua proteção.

Cuidemos, se é que admiramos,

suas águas despencando pelas ribanceiras.

A visão de um arco-íris,

na fusão dos raios de sol com a neblina,

sabiamente abençoando as cachoeiras,

puras, sagradas e limpas,

assim como também as crianças,

nesse lindo cenário,

num magnífico jardim que Deus criou.

E não pagamos nada para ter,

a não ser a obrigação de ter cuidado,

pois pelas mesmas pontes

sob as quais os rios passam,

passam bois e passam boiadas

e também passam as nossas vidas,

completamente fundamentadas

no bom convívio com a natureza

e até o limo nas pedras

protegem os tidos feios sapos,

numa feliz e óbvia constatação

que cada qual tem a sua missão,

nesse ecossistema,

onde se banha também Maria Helena,

pois as águas semeiam vida,

por onde quer que elas passem.

Também levam poluição,

assim como querem os de almas cegas,

que não tem coração.

A ambição sempre esteve na contramão.

Enquanto o elo entre nós e o meio ambiente,

não for mais que o nosso próprio ego,

jamais compreenderemos,

que o maior talento de um maestro

está em ler, mergulhar e absorver

os estranhos rabiscos na partitura.

E na tragédia em Mariana, Minas Gerais,

o rio doce, enquanto agoniza, sussurra,

que nessa total falta de responsabilidade,

não é só ele quem sofre

e que nós sentiremos muito mais.

O joão-de-barro, bem mais esperto, já se mudou,

pois é um engenheiro muito mais criterioso,

quanto a escolha do seu material de construção.

...E nas telas os rios continuam lindos, convidativos

e bem caudalosos.