ACHO QUE...

Acho que estou ficando louco,

onde tem muito estou pondo mais um pouco,

onde nada tem quase nada ponho também,

tento fazer um saco vazio parar em pé,

escorei com duas vigas no contrapé,

pus um espantalho para proteger meu saco de poesia

de onde tiro, ao menos, duas dúzias por dia,

pinto os ovos com olhos de galinha,

uma me disse que era cega, tadinha,

fiz uma festa para a tartaruga que era do meu avô,

comecei na sexta e até hoje ela nem chegou,

acho que pus o pão dentro da manteiga,

o café derramei na calha, perto da cumeeira,

fiz um poema cheio de vírgulas e pontos,

acho que ele está com soluço e todo tonto,

mandei uma carta para o presidente do meu país,

falei de peito aberto que ele não tinha que meter o nariz

nas coisas do cidadão, nem pedir que lhe devolvam mais,

pode faltar feno para alimentar nossos pobres animais,

acho que vi um pombo roubar a carta de alforria,

comeu-a todinha, engasgou, morreu engasgada a pobrezinha,

plantei um pé de idéias logo ali na beira do muro,

quero ver, pela janela, sem alguém vem roubar, no escuro,

bem, dá licença, tenho que içar o sol que afundou de noite,

acho que a lua o espanca com seus raios que parecem açoite,

estou criando uma colmeia de palavras, no favo, imerso,

vejo os olhinhos miúdos daquele que o chamo de Meu Verso...