Cortes
Fábio Costa

 
Talhado a machado, sou.
Cortes disformes e profundos.
Arrancam lascas de excesso,
Marcam o tronco escuro.
 
Naquilo que sou e nem sei
Paira a dúvida do querer saber.
É necessário? Neguei
Deixei-me cortar por meus sobressaltos.
 
Ah, cruel metamorfose!
Estilhaça o pouco que edifiquei.
E quando penso ter acertado
Vejo o machado, afiado.
 
Não temo os cortes da alma.
Vivo intenso para morrer.
Se desdenho o sentido da vida
Sou um louco, fingindo viver.
 
Então, machado afiado,
Recorte os cortes que eu mesmo fiz
E deixe as cicatrizes na alma
Elas são sinais de tudo o que vivi.