Girassóis roídos

Um dia, plantei girassóis.

E os rascunhei altos

e amarelos e perfeitos.

E um dia, já eram

os verdes talos, aveludados,

rijos, buscando o alto céu,

prometendo colorido encanto.

E já um dia, eram grandes

os botões, dezenas de ventres,

eixos milimetricamente complexos,

que mal podiam se

conter pelo sol.

Um dia floriram os girassóis.

E as pétalas amarelas

se retorceram disformes,

e foram roídas e abortadas.

E os miolos esgarçaram

em indiferente imperfeição,

cegos, tortos, olhos vesgos e

vazados, não realizavam sua sina,

não pegavam o sol.

E um dia, uma grande mosca,

dum escuro verde-podre,

pesada em sua imundície,

veio, pousou, riu, e

espantou as últimas joaninhas.