Shhh

Abaixados

Olhares percorrendo ao redor da sala

Algumas vezes fitando o corredor

Porém sempre o medo de ser atingido

Ou ver algum conhecido ser machucado

Esperando

Que tudo aquilo acabe logo

Acabe por hoje, pensa

Pois acabou se acostumando com aquilo

Quando a pessoa se acostuma com desastre

E o medo é mais um amigo malandro

Vemos o grau que as coisas estão

Quando se acostuma com ele ao lado

A matéria por acabar

A professora não teve tempo de completar

Quando o tiroteio começou

A caneta caiu e todos foram ao chão

No telefone

As mães, avós, tias, madrinhas, amigas

Os pais, os tios, os padrinhos, os avós

Perguntando como é que estão lá

Mas que triste ser refém

Mas que triste ser refém assim

Por causa de alguma coisa lá fora

Que ninguém se quer parece lembrar

Por causa de uma tragédia aqui

Que se acontecer, a família vai sempre lembrar

Talvez as pessoas que leem o jornal também

Mas depois de um tempo, só mesmo os pais

(Data: 30 de Maio de 2017)