Me resta a apatia

A vida castrou-me as paixões

Só me resta a apatia

O fervor me foi drenado

Só me resta a apatia

Fui punido por viver

Só me resta a apatia

Censurado o meu querer

Só me resta a apatia

Condenado ao desalento

Só me resta a apatia

O sangue hoje é frio

Só me resta a apatia

Desejos mundanos, e só!

Só me resta a apatia

Os objetivos já não impulsionam

Só me resta a apatia

Não posso, pois nem quero

Só me resta a apatia

Faço de conta que existo

Só me resta a apatia

Mesmo a inércia já me cansa

Só me resta a apatia

Não há fim e não há começo

Só me resta a apatia

Na gagueira da existência

Só me resta a apatia

Apodreço na penumbra

Só me resta a apatia

Um contraponto à alegria

Só me resta a apatia

Sou Ulisses sem Ítaca

Só me resta a apatia

Sem as bases nada ergue-se

Só me resta a apatia

A deficiência é congênita

Só me resta a apatia

A realidade é movediça

Só me resta a apatia

Até a luz tornou-se atroz

Só me resta a apatia

Um suicídio homeopático

Só me resta a apatia

Flerto com a autodestruição

Só me resta a apatia

Sou o espectro da decadência

Só me resta a apatia

À sete palmos de todos vocês

Só me resta a apatia

Enterrado na superfície

Só me resta a apatia

Na eterna asfixia

Só me resta a apatia.

Rafael Gonçalves
Enviado por Rafael Gonçalves em 17/06/2017
Reeditado em 02/08/2017
Código do texto: T6029570
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.