Contratempo

Os olhos de uma remanescência soturna,

A inexistência de vida,

O silêncio,

As rugas de milhares de anos

E a passagem desse tempo,

Inóspito.

Três vezes, te toco o rosto,

Os fungos da minha pele fundem-se,

Ternamente, à crosta dos olhos teus.

E mais um ano trespassa?

A música em contraponto,

Em ode minimalista!

O som,

Que vai de um Pólo do cérebro ao seu oposto,

E que se converge no final do compasso.

Ouve esta melodia!

Este “Larghissimo”,

Muito, muito, muito lento…

E outro ano foge pela janela entreaberta.

Será isto amor?

Senão, então o que será?

Pode mesmo ser medo,

De ver o final deste filme só.

O meu olhar deixa o teu,

Viaja de encontro ao teu da fotografia,

Aquela da estante que tanto olhavas

E tanto te perdeste por anos a fio.

Estás feliz na fotografia?

Não aparentas…

Mas eu abraço-te nela!

Será de mim?

Será da essência do meu perfume?

Será a escuridão do meu olhar?

Será da assimetria da minha beleza?

Ou a assimetria das minhas palavras?

Isto rói-me por dentro, sabias?

Sérgio Peixoto
Enviado por Sérgio Peixoto em 27/04/2017
Reeditado em 27/04/2017
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