Meridianos

Ele e os Outros,

Tese e antítese,

Nascidos em paralelo,

Qual meridianos:

Nunca se encontram.

Na mesa de jantar,

Imprensada num canto escuro da sala,

Serviçais amontoam, às pressas,

Um banquete coagulado de presas,

[carnes e vísceras.

Vorazes,

Uma matilha de predadores

[se amontoa e ataca, aos restos,

Os restos de banquete.

Quando nada mais resta,

O silêncio, por vezes quebrado

[pelos produtos da digestão,

Em putrefação,

Revela os torpores do corpo

[e o vazio das almas.

E Ele, atônito,

Diante do vagar das horas,

Que insistem em não passar,

Pecebe, sozinho,

Que o anfitrião,

Num último e novo golpe,

Estende sobre a mesa,

Como derradeira oferenda,

Uma enorme língua em chamas,

Estúpida, sovina e cruel,

Rasteira qual serpente,

Contra sua própria geração.

Fábio Vasques
Enviado por Fábio Vasques em 22/03/2017
Reeditado em 22/03/2017
Código do texto: T5948543
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