Que-ismos

Um dia ela percebeu que as pessoas são como prismas, geométricas, multifacetadas, e que ela apenas enxergava uma dessas faces. Aprendeu que tudo era uma questão de ângulo, e que com distanciamento isso adquiria uma outra perspectiva. Compreendeu que seu próprio olhar romantizava algumas coisas em prol de outras.

Que nem tudo é preto e branco separadamente.

Que existem outros tons entre.

Que ninguém é imutável.

Que segredos existem.

Que passado existe.

Que eles têm seu peso a carregar.

Que é preciso ser individual.

Que cordões umbilicais já foram cortados há muito.

Que ser sozinha é normal.

Que é bom até.

Que isso evita confrontos.

Que assim segue seu próprio destino.

Que deriva de suas próprias escolhas.

Que os outros se fodam.

Que caralhos!

Que outros!

Que ela.

Que razão existia em se relacionar com outros, quando ela sozinha, era muito mais pacífica? Mesmo que uma paz caótica, um caos passivo. Ela, onírica, letárgica às vezes.

Que transpira de ansiedade.

Que anseia sem razão.

Que pira. Vida que escorre em gotas, de poros dilatados. Ser ela deve cansar.

Dani Silveira
Enviado por Dani Silveira em 27/02/2017
Reeditado em 28/02/2017
Código do texto: T5925639
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