UM ANJO LEVOU O POETA ÀS ALTURAS

Um anjo curvo, retorcido e anguloso,

levou o poeta às alturas da vaidade

e de lá descortinou toda beleza do mundo,

ofereceu banquete para sua fome

e luxo que vestisse.

Apresentou mulheres lascivas e homens

voluptuosos corruptos;

o Labiríntico ofereceu poder oferecendo domínios.

Enquanto apontava cá embaixo

o Malencarnado dizia ao poeta

que no mundo não tinha homem mais feio,

mais faminto, nem outro de alma tão nua quanto a sua;

o Caprichoso apontava defeitos tecendo elogios:

não há mais propósito casto no mundo,

honestidade ou bravura, não existe homem mais fraco

nem mais pobre que tu, oh poeta!

e concluiu prometendo “tudo que desejar, te restituo”.

Então o poeta mediu em silêncio

o arrombo da vaidade,

a altura do orgulho,

a profundidade da mentira

e sentiu o chão firme sob os pés;

o Poeta nem ergueu nem baixou os olhos

ao responder sem maldizer o anjo adunco:

“eu não estou sozinho”.

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Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 23/02/2017
Reeditado em 12/03/2018
Código do texto: T5922163
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