Gaiola.

Prende-se o passarinho. Penugem marcada. Marcada pelas lágrimas que todos os dias insistia em exprimir, forçando a secar o primeiro jarro, para que após o sangue pudesse brilhar em sua face. A velocidade das lágrimas surpreendiam os ignorantes que pela porta tentavam saber o porquê. Era de tão bela sincronia que as lágrimas acompanhavam os soluços em uma sinfonia beethoviana, que ficava difícil saber qual melhor escolher. Tudo que o pobre animal desejava era que o deixasse preso. Não o libertasse para o amor, alegria e felicidade. Os gritos que impulsionavam o seu tórax a uma maior respiração, tornou-se o seu plantio, colhendo a solidão. Seus pensamentos lutavam diariamente com os sons putrefes e mesmisquos que os humanos, diferente de qualquer coisa podiam fazer. Sua penugem caia junto as lágrimas que assim como qualquer outro membro corporal, não podia ser desprendido. Durante certa noite, viu que suas penas estavam enrijecidas, fortes, paradas estatuamente. De forma perduosa ao mundo, abriu-se as asas mostrando quão belo era e que seus sentimentos o estavam atrelados como cortes que faziam sangrar seu corpo e que de nenhuma forma poderia ser pensada a incalculável dor que estava sentindo, pois o costume lhe veio como uma amiga. Estaticamente sua vida foi parando, o coração insistia em batimentos ofegantes, compartilhando da despedida com aquele pobre animal. Posicionado agradavelmente como julgou ficar, aquele pássaro se deixou levar como o ponto cume da canção que transcende a tudo que possa ter sido visto ou ouvido. Hoje tornou-se chuva, e dentre as milhares de gotas que abrilhantam o mundo, em algum momento aquela triste gota desse sem ser convidada sobre os rostos de algum momento feliz que estão vivendo, não tendo apenas o sorriso como prazer, mas o choro.

Sâmulo Mendonça
Enviado por Sâmulo Mendonça em 15/01/2017
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