Poesicídio

“...Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.

Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre

perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é

olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é,

iluminá-la ou ser por ela iluminado...”

Antônio Cícero, Guardar.

Se o pássaro está preso na gaiola,

o pássaro não pode voar,

se o pássaro não pode voar,

o pássaro não é mais pássaro,

não tem pássaro na gaiola,

a gaiola está vazia.

Se o verso está preso na mente,

o verso não pode encantar,

se o verso não pode encantar,

o verso não é mais verso,

não existe verso na mente,

a mente está vazia.

Se o pássaro está preso na gaiola,

o pássaro pode cantar,

mas o canto do pássaro na gaiola,

não é canto, é lamento.

Se o verso está preso na mente,

o verso está preso ao pensar,

mas o pensar do verso na mente,

fá-lo mero pensamento.

Se o pássaro está preso na gaiola,

a canção do pássaro é sombria,

se o verso está preso na mente,

o cativeiro assassina a poesia.

Inverno de 2016

Aleki Zalex
Enviado por Aleki Zalex em 08/01/2017
Reeditado em 08/01/2017
Código do texto: T5875764
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