Meu jardim
Cultivo noites de pouco sono
Sonhos esparsos e confusos,
Olhos pesados
E um corpo profundamente marcado por ti.
Cultivo dias quentes de pouco
sossego
Longas horas de cansaço
Pés e mãos exaustos
Da inclemente arte de entender a arte
E um prazer de dever cumprido.
Cultivo amigos raros
Nem sempre próximos
Mas presentes
Pessoas com quem compartilho a
difícil tarefa de não me mentir.
Cultivo família... ah, família
Começo - meio - fim
Espaço e tempo
Pasárgada achada
Divina Comédia de todos-os-dias
Lá, sempre serei menina
E estarei adulta
Nunca serei deixada, lugar onde
sempre serei amada.
Cultivo sorriso fácil
E uma seriedade de chumbo
Que pouco se mostra, muito se
esconde
Pra não parecer indiferença.
Cultivo mãos quietas, mente
barulhenta
Pensamentos, ideias céleres...
Passos suaves, corpo cansado
Que a ti entrego.