Não confundas a violência do opressor com a reação do oprimido
Eu grito morte
Eu grito ódio
Grito por sorte
Pois nem mesmo meu grito é tão sórdido
Eu grito morte
Pois na rua
vestida ou nua
terei eu que gritar socorro
Eu grito morte
pois mesmo gritando morte
sou eu que morro
Não confundas o meu grito
com teu ato
Pois eu mulher: grito
Eu homem: mato
E por mais alarde que eu faça
Por mais alto que seja a gritaria
Eles ainda bebem
meu sangue na taça
E ainda riem
da minha dor em zombaria
Por mais alto que eu grite
serei tratada como louca
Por mais alto que eu grite
as únicas consequências serei eu rouca
Porque mulher não tem voz
não opima
e teme
Mulher é bunda
que empina
geme
Só aceitam minha boca aberta para o prazer
mas eu abro minha boca pra dizer
que grito morte aos homens
pois eu mulher cansei de morrer.