"ET CETERA" (Degradê)

E se o céu fosse em uma tonalidade de cinza,

E se o pôr do sol não pintasse as nuvens com um degradê de vermelho,

E não desenhasse pelo laranja até tocar o dourado,

E se as árvores fossem todas iguais,

E se todos cantores cantassem a mesma música,

E se usássemos a mesma roupa, e o mundo fosse uniforme,

E se houvesse um rei que acreditasse ser bondoso,

Mas na realidade fosse um ditador e tivéssemos que nos sujeitar às suas vontades,

E se todos fossemos advogados, quem curaria as nossas enfermidades?

E se tivéssemos apenas um canal na televisão,

E se tivéssemos fadados a comer todo dia a mesma refeição,

Por um minuto, um mês, um ano... a vida seria um fardo,

Não é o universo quadrado, e ainda que fosse teríamos pontos diferentes de visão,

E de quem é a verdade se apenas existem pontos diferentes de reflexão,

Uns gostam de azul, outros de verde, quem os julgará?

Aquilo que não se pode escolher, determinado está,

Vejo uma escala de cores, loiros, negros, ruivos e “et cetera”,

Mergulham os que querem mergulhar, mas o respeito será como a calma de um mar,

Onde amar não tem forma, tamanhos e temores,

Onde cada um livre de amarras poderá amar,

Sem exigir impor os credos e sua filosofia,

Liberdade sem acorrentar,

Livre de dissensões e discriminações,

Para que o céu tenha vários azuis ao longo do dia,

Para que o pôr do sol possa colorir o horizonte e tocar o mar,

Para não haver definições, e se viva sem acorrentar,

Para que todos tenham livre acesso ao amar,

Sem se esconder como um criminoso,

Sem ser apontado como um leproso,

Porque há muito mais entre o branco e o preto,

E de olhos abertos veremos e seremos todas as cores.