Tratado de Desamor

Talvez devêssemos deixar por escrito nosso trato,

Você nunca se apaixonará por mim ou eu por você,

não deixaremos nossas almas nas mãos do destino,

jamais nos olharemos nos olhos,

deixaremos as estrelas para os tolos,

queimaremos poesias na fogueira,

seremos tão insensíveis e frios,

quanto um iceberg ao mar,

sobreviventes da solidão,

mantenedores da tristeza,

insanos lúcidos,

saberemos jogar nosso pôquer,

blefaremos sempre,

não haverá carinhos,

nenhum toque,

nenhum desejo ardente,

nenhum romantismo,

nenhuma música,

nenhuma dança,

nenhum vínculo,

nada que nos dê esperanças,

não me conte suas qualidades,

não me fale de seus gostos,

não me procure quando precisar,

apenas me mostre seus defeitos,

deixe-me nas sombras de mim mesmo,

não tente me resgatar,

não cries ilusões,

não digas que me amas,

cultive seu desprezo,

alimente seu desamor,

aquele fio de navalhava afiado,

o fel que compromete a lua,

a derradeira entrega de Sócrates,

a cicuta que encurta a vida,

prometemos jamais prometer algo,

juramos jamais jurar verdades ou mentiras,

iremos partir quando nos aprouver,

sem despedidas, cartas ou lamentos,

e viveremos do esquecimento noite após noite,

porque o amor não nos pertencerá nunca mais...