SEIS FASES DA LUA

I

Há luas que só compreendo

Se vivo vendo

Ao vê-la brilhar

Despido-me lua

Despido de alma nua

Que amanhã flua teu raiar

Pois lua, não há maior lampejo

Que teu infinito gracejo

Que encaracola as águas do mar

Me chamarão noturno e lunático

Dionisíaco, Baco, errático

Fanático por banho lunar

Mas protesto pois meu olho percebe

A fotografia contínua que concebe

A mirada impossível de fotografar

Doce lua não é de queijo ou mel

É tortuosa e oblíqua e broquel

Ao poeta lamparina de alumiar

II

Pois quando criança

Fazia ciranda, escorrega, balança

Na esperança do sol vermelho rachar

O clarão do dia solar

A escuridão do brilho lunar

Ao aprender o valor do trabalho

Desaprendemos que o odor do orvalho

É mais valente que braços à trabalhar

No clarão do dia solar

Na escuridão do brilho lunar

Na Tempestade surge a Miranda

Admirada, mundo novo em ciranda

E eu com ela à observar!

Ao clarão do dia solar

À escuridão do brilho lunar

Dança e balança no palco da vida

Todos maquiados de casca devida

Atrevida forma de rumar

No clarão do dia solar

Na escuridão do brilho lunar

Se a Babel da cidade é acorde

Lorde Mozart compôs tom discorde

Os desafinos falam sem jamais cessar

Ao clarão do dia solar

À escuridão do brilho lunar

Se o mundo é demasiado e denso

Creio estar avesso e propenso

Ao exercício de marionete secular

Sob o clarão do dia solar

Sob a escuridão do brilho lunar

III

Nossa estrada de ferro é ereta

Nossa estrada da vida é alcova

Abaixo do sol que nos afeta

De forma secreta

Como a discreta lua nova

Somos efêmera estrela do dia

Como o ruivo cabelo do poente

Por isso surge a utopia

À dar alguma alegria

Na nostalgia da lua crescente

Compreendo o tempo incessante

Que a todos perpassa e morfeia

Com ampulheta pujante

Ponteiro retumbante

Impactante como a lua cheia

Mas garanto não haver nada no mundo

Tão mais belo e deslumbrante

Que o amarelo brilho iracundo

E do vértice profundo

Oriundo da lua minguante!

IV

Se o poder é a mais importante estrada...

Sabes,

Se comparado à lua e suas fases

Fazes da ganância a importância do nada

Se tua miséria engorda os que a enseja

Lute!

Arduamente ao sol que lhe incute

Labute ante qualquer maré malfazeja

Se acha que o amor anda por acabar

Abrace!

Se a beleza da lua é sua múltipla face

Enlace a todos que puder amar!

V

E nos tempos mais nocivos

E efusivos,

Que na tempestade vamos ágil

Superando na batalha o naufrágio

De duelos exaustivos

É o que nos mantem deveras vivos

E corrosivos

Ainda que da lua o agouro presságio

Faz-te superar a esfera do mais frágil

Protegendo-te de mares tempestivos

VI

Lua brilhe gradativo teu cume

Sei que a luz do parto te inveja

Também te cobiça o vaga-lume

Pois teu halo é a forma que almeja

Uma luminosidade de tal volume

Capaz de tornar a terra benfazeja

E permanece teu lume

Aquilo que mais viceja!