VIDA EM CORES - Da felicidade à depressão

Cá estou mais uma vez filosofando, sendo meu psicólogo.

Entre tantas reflexões sobre a vida, algumas em bons momentos, outras em momentos difíceis, a vejo como um ciclo constituído desses momentos, de experiências, sensações boas e ruins, que temperam, que colorem. Sim, quanto maior a regularidade nas sensações, menor também a intensidade.

Imagine uma vida sem experiências ruins, tudo seria regular, neutro, conclusão lógica da ausência de extremidades. Sendo assim, não existiriam boas lembranças, talvez se reduzissem ao que fizemos ontem, semana passada.

Nossas lembranças, repare, obedecem a um critério seletivo do cérebro, que guarda apenas o que teve alguma relevância, momentos ligados a sensações boas ou ruins. Tente resgatar as lembranças do que viveu há um mês. Garanto que não terá registros de momentos neutros, isolados de qualquer sensação.

Nesse contexto se conclui que tudo o que há de ruim é o que completa o sentido do que se vive de bom e a intensidade com que se vive. Imagine suas piores experiências, seja uma perda, uma mentira, uma traição ou sofrimento por qualquer motivo. Qualquer que seja sua lembrança, note que, sendo uma grande perda, o valor que dá hoje ao que te resta é muito maior e o bem que te faz é na mesma proporção; sendo uma decepção, sofrimento, aquilo que mais valoriza em uma pessoa hoje são condutas inversas àquelas, ou seja, as pessoas que você mais admira, que mais te fazem bem têm características opostas, o que passamos a considerar como qualidades essenciais, que, a partir de então, passamos a ter como referências, exigências.

No entanto, nossa essência não é fruto apenas do que vivemos, mas também de experiências de outras pessoas que acabamos compartilhando, assimilando com maior ou menor intensidade a depender dos valores que adquirimos, daquilo que aprendemos a rejeitar ou admirar. E essa interação mitiga a previsibilidade.

O ideal não contempla o excesso, causado pela falta de controle provocado por algum estímulo, por traumas, por perdas decorrentes da ordem natural (morte, vida), que independe de relações sociais. Integram esse ciclo, no entanto, esses excessos, que geram novos sofrimentos intensos, novos traumas.

Quando eu disse colorir, não foi um termo para enfeitar, mas uma maneira de retratar, pois mesmo sem relacionar a qualquer fato, sozinho consegue dar uma cor para cada lembrança, seja negra, cinza, vermelha, azul, amarela ou algumas lembranças com várias cores (risos).

Imagine o ciclo que representa a vida como um alvo com extremidades indeterminadas, composto por várias cores, com o centro escuro, de núcleo negro, seguido pelo cinza escuro e cores de transição (sendo o centro uma área que pode ser alternativa ou progressiva em direção ao núcleo, a depender do estímulo). Saindo do centro e em direção às extremidades indeterminadas teriam várias cores (não seria uma escala progressiva, mas alternativa, com maior ou menor contraste em cada cor).

E aí surge a pergunta, qual é o fundamento prático de tudo isso?

Depende da assimilação. Quando tenho o sofrimento como algo sem solução, eterno, meu comportamento é determinado por essa crença, me torno, portanto, uma pessoa pessimista, negativa, antissocial e, além disso refletir nas minhas interações, entro num ciclo depressivo, de isolamento, permanecendo nas cores escuras, cinza, podendo chegar ao núcleo, negro. Aqui, toda força consistente na esperança, nas boas lembranças, nos sentimentos se esgotariam rapidamente, como uma luz que se apaga lentamente e a permanência, por pouco tempo, resultaria na autodestruição, no suicídio.

Por outro lado, o sofrimento tido como algo passageiro, ou uma mudança da crença inicial que o tinha como algo eterno, conduz suas ações a outra direção, ou seja, mesmo que chegue ao centro, até mesmo ao núcleo negro, não terá permanência, apenas irá alternar entre momentos de isolamento nas cores escuras e momentos em que se distancia do centro, se fortalecendo nas outras cores, se relacionando com amigos, familiares, com alguém especial, com Deus (de acordo com sua fé), que pode prevalecer mesmo quando todas as outras motivações se esgotarem.

Assim, podemos refletir e dosar a importância que damos para cada estímulo, considerando, além do que foi dito, que cada conquista depende de abdicações, e quanto maiores as dificuldades, maior o valor que damos a essas conquistas. Cada fase predominantemente boa tem detalhes ruins, o contrário também é verdade. A despedida de alguém especial pode, num primeiro momento, causar um sentimento ruim, mas alimenta a saudade, valoriza o reencontro, mostra a importância que essa pessoa tem.

Despedir de amigos com os quais provavelmente não terá mais convivência, além de mostrar também a importância de cada um deles, te remete à conclusão de que foi necessária uma mudança na sua vida antes disso, outras despedidas para que fosse possível essas novas amizades que tanto valoriza e que, mais uma vez, darão espaço a outras que virão. Vale lembrar que isso não precisa significar uma perda na vida, apenas o acréscimo de novos amigos.

O mesmo se aplica aos relacionamentos. Por mais que qualquer um deles não tenha terminado bem, certamente fizeram bem um ao outro em algum momento e, ao final, mais um aprendizado. Raiva, mágoas podem ter sido reflexo de um ciclo e o perdão significa, dentre tantas outras coisas, a consciência de que você pode ser a parte que sofre por isso hoje, ao mesmo tempo em que pode ser quem dá causa para isso em algum momento da vida.

A conduta não é guiada por convicções estáticas, absolutas e, portanto, tudo o que condena ou exalta é sua conduta em potencial. Ter essa compreensão te permite ser uma pessoa melhor, ser mais paciente, tolerante, tratar as pessoas com mais respeito, ser caridoso, ter humildade, em fim, agir com amor, pois esses comportamentos se espalham, refletem, se multiplicam e retornam.

Mesmo que tudo pareça uma grande bobagem, essa simples reflexão pode ser o controle da direção para o núcleo ou pelas cores que quiser. Tudo depende da sua crença.