E afinal, o que é amor?
Eu nunca me acostumei a aceitar as coisas como elas são. Sempre tinha críticas a fazer e questionava tudo, até encontrar a melhor definição ou explicação para o que quer que fosse.
Foi exatamente isso que ocorreu com a palavra “amor”, que muitas pessoas já tentaram definir. Camões disse que “amor é fogo que arde sem se ver e ferida que dói e não se sente”. O Dicionário Aurélio o define como sendo um “sentimento intenso de atração entre duas pessoas”. Muitas músicas já abordaram esse tema, mas poucas delas tentaram explicá-lo e aquelas que o fizeram nunca me satisfizeram totalmente. Por isso, comecei a procurar minha própria definição para o amor.
Pesquisei o significado da palavra. Amor vem do latim, mais especificamente da palavra amore, que designa um sentimento ou uma emoção que leva alguém ou algo a desejar o bem de outro alguém ou algo.
Na busca incessante, a leitura do livro “O Encontro”, de Eduardo Moreira, consegui entender melhor o significado dessa palavra, principalmente quando o protagonista, Jonas, está rezando com sua mãe e recita: “Ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda entregue meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso se aproveitará”.
Quando as pessoas rezam, muitas vezes não percebem o que estão falando. Mas nesse livro, o personagem Jonas destrincha o que esse trecho realmente expressa e explica que “o amor é a verdade! Veracidade, não no sentido de ser fiel aos fatos, ao que se fala. A verdade maior!”
Tudo isso me levou a entender que o amor não está nas atitudes, mas no motivo que leva alguém a tomar tais atitudes. Se for porque simplesmente deseja o bem de outro ser, então isso é amor.
Podemos aprender sobre o amor de diversas formas e com diversas pessoas. Mas, sem dúvida, os animais têm um jeito especial de nos ensinar sobre o amor...
Tive uma cadela chamada Tina e quando ela completou três meses de idade, adoeceu. Nós a levamos ao veterinário e foi diagnosticada com uma doença conhecida por Parvovirose. Uma doença cruel e extremamente perigosa, que na grande maioria das vezes tira de nós os nossos melhores amigos.
Após dois dias que a Tina estava internada, fomos visitá-la pela manhã. Quando chegamos, vimos minha cadela caída dentro do canil. Ela não se mexia, estava praticamente morta. Apenas respirava e olhava para mim com um olhar de adeus. Fiquei muito triste nesse dia. Conversamos com o veterinário e ele deixou bem claro que a Tina não passaria daquele dia.
Fomos visitá-la à tarde e, ao chegarmos lá, percebemos que seu estado não tinha sofrido alteração, mas o olhar dela estava diferente, não parecia mais com o anterior. Estava fraca, mas apresentava sinais de melhora. Voltamos para casa e à noite resolvemos visitá-la novamente. Para nossa surpresa, ela tentou se sentar e com muito esforço conseguiu, mas estava perceptivelmente tonta e sem forças para se segurar direito. Nesse momento compreendemos o recado dela: estava lutando contra a doença, reagindo e vencendo. Ficamos muito felizes.
A partir desse dia nós passamos a visitá-la em torno de cinco vezes por dia e a perceber a melhora dela a cada visita. Claramente, Tina tinha mais vontade de viver a cada vez que nos via.
Essas visitas surtiram efeito e ela pôde voltar para casa, mas a grave doença deixou sequelas. Diariamente tive que fazer curativos nas suas quatro patas e no seu nariz que haviam sido bastante machucados e não voltaram ao normal. Ela tomava seis remédios e vitaminas todos os dias. O responsável por cuidar de tudo isso era eu.
O problema é que Tina não gostava de fazer curativos e nem de tomar remédios e, depois de um tempo, ela passou a me evitar. Não me recebia mais quando eu chegava em casa, não vinha mais quando eu a chamava e quando me via com os remédios na mão ela fugia. Mas era necessário fazer tudo isso.
Abdiquei do prazer de tê-la perto de mim todos os dias para vê-la melhor de saúde. Todos os dias fiz o que tinha que ser feito para sua saúde se manter sempre estável, mesmo que isso gerasse desconforto e trabalho para mim.
Depois de um tempo, Tina morreu, mas deixou um ensinamento importante. Enquanto ela viveu, busquei sempre fazer o melhor, proporcionar-lhe uma vida digna, mesmo que isso causasse certo desconforto e fosse trabalhoso. A verdade por trás das minhas atitudes era simplesmente o desejo de vê-la melhor. E então pude entender que isso, sim, é amor!
O amor vai além de fazer algo para o próximo e vai além de desejar algo para o próximo. O amor é a união do fazer com o desejar o bem para outro ser. E foi isso que fiz em todas as visitas a Tina, em todas as vezes que fiz curativos e dei remédios a ela. Além de desejar o melhor para ela, fiz o melhor para ela. Essa é a essência do amor.
O amor é o desejo do bem e a ação pelo bem de outro alguém.
Arthur Paraguassú
Enviado por Arthur Paraguassú em 17/08/2017
Código do texto: T6087008
Classificação de conteúdo: seguro