AMIZADES NA REDE

A amizade, em tempos de Redes Sociais, se limitou ao gargalo do discurso e ao terreno da bajulação. Converge para se sentir incluído. Quando diverge, aproxima-se da solidão. O discurso que está de acordo com os padrões e expectativas do outro garante a permanência dele em seus contatos. Caso desvie para um tom mais enfático, uma postura bélica, talvez um rosto conhecido suma da sua lista. Saiba o que diz, saiba com quem aparece nas fotos. Suas crenças e sua história não valem mais do que as aparências policiadas por quem as interpreta. Não são intolerantes, apenas aderiram à objetividade do carrasco, que com seu machado concretiza decapitações sem remorso. O carinho, a pieguice e a compreensão da amizade já não encontram lugar entre os gigas da Internet. Gigante é a vingança, o exibicionismo intelectual, a ostentação mórbida, a face solitária exposta em fotos, sorrisos e gentes que executam a performance social impalpável. Se o amigo parece valer a pena, você procura saber o porquê da exclusão imposta ao seu perfil. Talvez, ele responda que ficou ofendido com algo que você escreveu ou diga que apertou o botão errado, então o recoloca em sua lista e você aceita tentando renegar a pontinha de humilhação que aquilo representou. Não, não há mais amizades. Há a submissão, o pensamento que precisa escolher um rebanho sabendo que não há escolhas, só tendências. Você adota um discurso e acredita que fará parte de algo maior, desconhece que renunciou a si mesmo.
Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 20/07/2017
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