( Eus de Espelhos )

Caiu uma folha na vastidão do meu viver, fora aquela gota de orvalho que pesou o fato de amar e não ser amado. Foi-se então o vento que levou pra longe, assim distante o príncipe encantado. Dissera aquela mulher no canto do quarto, no breu dos seus olhos gritantes.

Choveu partículas de mim, de um eu guardado - tanto e tanto tempo - que já não havia carne ou formato exato, apenas uma sombra esquecida no verso do espelho, naquele velho espelho onde guardamos os silêncios, os segredos e os medos.

Estes medos:os meus, os seus que amordaçamos para que o mundo desconheça nossas fragilidades, para que sejamos equivocadamente fortes, e é neste momento que vou me despindo dessas alegorias, desses delírios moldados por tantos anos em gesso, cimento e escuridão.

Mergulho em minha loucura e cometo um desatino - quebro o espelho (7 anos de azar...não!) - ao chão os cacos do que pensei ser, os cacos do que nunca fora realidade, apenas uma visão turva de um eu que secretamente teci em linhas e borrões. Minhas alucinações e conversas a sós _ ensaios de uma vida, de uma confissão para enfim tocar você.

Fernanda Mothé Pipas
Enviado por Fernanda Mothé Pipas em 24/06/2017
Código do texto: T6035836
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