...SOU EU!

Mar calmo... Sai para navegar e decidi ir um pouco mais além de onde minha compreensão permitia. Com meu barco simples, dessa vez, precisei remar durante horas...

Quando achei que deveria voltar, já não tinha forças, estava exausto... Fazia calor, então guardei o remo e preferi descansar. Acabei dormindo.

Despertei à noite tomado pela umidade. Meu barco sumia aos poucos e eu, ainda sonolento, sentia meu corpo sendo, levemente, sugado até a cintura... Meu remo já tinha sido engolido... Era como se uma boca de mar, além do remo, me provasse de baixo pra cima.

Havia frescor e suavidade naquela sucção e, cansado, eu não conseguia resistir...

Em segundos já não havia mais barco...

Só eu e a intensidade das águas daquele mar... Havia vontade de me movimentar, mas já estava completamente envolvido.

Estava zonzo e só me compreendi, realmente, tomado quando a água ja me lambia o pescoço... Em seguida a orelha, e em pouco tempo entrou-me à boca toda.

Então, submergi envolvido na plena sensação de entrega. Como um prazer sem reação, como um delírio pela pressão de toda aquela água sobre mim...

Ao notar que, sugado daquela forma, eu me deixaria ali mesmo, nesse momento, girei o corpo como se me pusesse sobre aquele volume d'Água e a dominei pelos pulsos com ímpeto.

Resistindo, ela me envolveu a cintura com suas pernas, como se fosse um turbilhão de água que me desejava por inteiro.

Estávamos encaixados como se fossemos um só, num rítmo frenético e sinuoso de quem luta pra emergir, sincronizados num nado pra dentro e com força, como dois enlouquecidos de desejo, como se roubássemos o fôlego um do outro.

Passamos a girar no fluxo da corrente e num movimento repentino, longe do alcance de suas mãos, eu a dominei por trás, agarrando nos seus cabelos, empurrando com raiva e na direção que eu queria... Eu a controlei com força, fazendo-a olhar para cima, para que olhasse em meus olhos, enquanto eu sussurrava eu seu ouvido: "Quem manda aqui sou eu!" Ela perguntava: o quê? Como quem queria ouvir novamente... E nesse diálogo, viril e intenso de braçadas, gemidos e gritos por horas eu mandei no mar...

Emergi e submergi várias vezes, como um herói aos ciclos de suas ondas... Fui atirado sobre a arrebentação, como quem penetra vários rochedos, como que despedaça corais. Eu a dominei com furor sem dor e sem medo.

Ouvindo aquele som gostoso das ondas do mar e em pleno êxtase da sua maior onda eu, já louco de tanto lutar, não resisti e me deixei levar como espuma...

Loucura... Despertei na areia sorrindo e sentindo as carícias de suas maresias.