OS DESERTOS EXISTENCIAIS

Nos desertos da vida temos a oportunidade para descobrirmos quem somos; e também a oportunidade para desvendarmos os mistérios que se adensaram em nosso próprio ser. Há momentos da vida que não fazemos outra coisa senão vivermos no silêncio proporcionado pela solidão dos desertos da existência. Há momentos da vida em que, de maneira introspectiva, interagimos somente com nós mesmos, ouvindo o eco de nossos sonhos e anseios, sem deixar também de produzir criativamente reflexões, lembranças cheias de nostagia, fantasias, clamores santos e intuições como formas de desvelarmos significados para tudo o que fazemos e almejamos realizar com perseverança no porvir. Sem encontrar nada que possa propiciar segurança nesse meio social em que vivemos, vislumbramos apenas o vazio e o nada; porém, é no vazio que buscamos com sinceridade de coração uma luz que nos salva; uma luz que achamos apenas no horizonte da transcendência em Deus. Paradoxalmente, precisamos da incerteza (sem sermos tentados de levá-la às últimas consequências) para destruirmos os preconceitos e os temores mais enraizados do nosso ser. É nas incertezas inesperadas que superamos as falsas seguranças e as ilusórias certezas. Enquanto vivemos nos desertos da vida, somos destituídos de nossas ambições e nossas ganâncias, para que no fim das contas só sobressaia o que for de mais essencial para vivermos com esperança. Às vezes, a vida precisa passar pelo fogo das provações, a fim de ser pulverizada as impurezas da alma; só assim é possível que resplandeçamos o que nunca pode perecer: a espiritualidade do amor que habita os bons e os puros de coração. Em fases de desertos existenciais, temos apenas a fé e o amor de Deus como maneiras de compreender os verdadeiros propósitos que podem guiar nossos passos. Dostoiéviski, de forma genial, expressa a sua concepção de vazio e de liberdade da seguinte forma: “Somos assim: sonhamos o voo mas tememos a altura. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde onde as certezas moram.” De fato, Somos livres quando somos desprovidos das falsas necessidades e dos vícios mais destrutivos da alma; só somos livres, portanto, quando temos coragem para escaparmos de nosso conformismo habitual e também quando buscamos triunfar sobre os círculos viciosos de uma falsa segurança e de uma rotineira familiaridade que nos faz perder o entusiasmo pelos estases da vida, cujo intento é vivenciarmos novas possibilidades de existência, rumando os caminhos de uma próspera canaã existencial.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 22/01/2017
Reeditado em 16/03/2017
Código do texto: T5889892
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