Retrato não revelado
Em meio aos meus desabafos suas
palavras surgiram como um abraço.
Minhas declarações que só em mim
guardo.
Meu olhar que ao longe fita a
viagem que me pôs poço abaixo e
vedou o sorriso de meus lábios.
O ser interior que se tornou um
trapo.
E o exterior que nem recordo pois
de minha memória ela furtou os
relatos.
Memória esta que confundia o real
do falso e me sentia nua e com os
pés descalços.
Havia atado em meu pescoço algo
como sendo um laço e adormecia
sempre com o corpo anestesiado.
Quantas vezes pensei em parar e
hesitei.
Quantos amigos deram ideias de
valor e eu recuei.
E tantos outros que ofereceram
ajuda e eu disse estar tudo bem.
Um peso constante que na mente
carreguei.
E a coragem com a qual os deletei.
A brisa que trouxe o riso
Porém levou o que havia de mais
bonito.
O branco de paz se transformou na
alma um tom negro voraz.
Já não havia sentido.
Busquei ao fundo ter de volta o
brilho.
Fui tão longe que perdi a direção
em um lugar sem luz e sem
retorno.
Me restou apenas gritar por socorro.
Já não se ouvia minha voz naquele
frio e vazio poço.
A ilusão de pensar que ela poderia
me trazer diversão.
Só fez aumentar as batidas do meu
coração.
E surgiu a inconstância de minhas
relações.
Já não me importava com minhas
emoções.
Me tornei um corpo frio e sem
reações.
Em meio a uma intensa dor que me
consumia pude ver diversas
frustrações e por trás de cada uma
delas suas respectivas soluções.
Decidi dar um basta
E dar vida a determinação.
Hoje sou o olhar que reluz em meio
a escuridão.
E que usa papel e caneta apenas
para dar vida ás palavras que
tornam em si fonte de inspiração.