O que sinto...

Sinto-me assim… como já me senti várias outras vezes, nada além do normal, nada além do que já conhecemos de mim mesmo. Ainda assim, Deus, essa dor, ainda que distraída, me parece ser sempre nova, porque entre o que se sabe e o que sente me parece que este último tem sempre sabor de novidade. Sinto-me assim… simplesmente assim… como só Tu sabes.

Sinto-me mal, Deus. Sinto-me incompleto. Atente aos meus advérbios. Eu perdi muito com aquilo que me tiraste. Perdoe o axioma, sou limitado. Não sei se o mais correto pra expressar o que sinto é falar daquilo que “me tiraste”, ou daquilo que “permitiste ser tirado de mim”, ou o que “a vida me tirou”, não entendo tua soberania, e nesta falta de entendimento, nessa pequenez nada mais me traz tantos problemas, afinal, constrangedoramente, nem expressar meu próprio problema com faculdade eu posso. O que sei é que perdi sem querer perder, o que sei é que perdi quando confiei em ti para não perder, o que sei é que o poder do destino não é meu, e eu, me sentindo assim, apenas me sujeito.

Sinto-me nem sei como. Apenas me sinto. A intensidade do que me foi tirado sei que foi extremamente didática e renovadora, mas ela me atordoou, não sei se tão sinceramente quanto devia eu entreguei-me pela dor a Ti, creio que aprendi a te entregar tudo, mas não sei bem o que isso significou.

Lembro-me que observaste cautelosamente até a minha última lágrima, toda minha pulsão foi sugada, tal qual um tecido molhado sendo retorcido foi minha alma chorando pelos meus olhos nas tuas mãos. Tu tens, Deus, essa autoridade. É frustrante, Tu sabes, é frustrante chorar em vão. O que chorei me mudou, mas não mudou o fato de ter perdido, e isso dói. Então quando fiz uma escolha, tomaste o controle e não me permitiste escolher, quando quis não pude ter o poder da decisão, e sei que foi o Senhor que o tirou de mim. Hoje, ironicamente, enfrento o problema oposto. Não quero tomar decisão em uma determinada situação, não quero fazer escolhas, porém, teu silêncio me obriga a sair da zona de conforto para tomar partido, e sei que procrastinar não é uma opção. Quando eu queria decidir não me deixaste escolher, quando me abstive da decisão me obrigaste a escolher.

O que eu aprendo? Não estou brincando de filosofia de Deus. Não estou em debate sobre o livre-arbítrio, sobre a responsabilidade humana, sobre a natureza da escolha, perante o Senhor não há essas amenidades. Eu estou vivendo isso, é muito mais que perambular no campo da hipótese.

Eu me sinto opaco, Pai. Memórias são irrefugiáveis anedotas que denunciam toda a minha expressão.

A vida é o texto, Tu és o Eu-lírico.

As palavras, as cláusulas, os monemas são dos detalhes aos óbvios, vão das moléculas às estruturas sólidas da realidade, cada encaixe dessa criação diz por si só alguma coisa.

Mas, eu, além disso, afirmo. És um Deus de contexto, e ter contexto é ter caráter. És o Deus dos contextos. Não tenho a audácia de dizer que criaste o Universo para mim, não, eu vou além, o criaste para Nós, para nos relacionarmos. Isto é meu Efésios 1, isto para mim é ser conhecido antes da fundação do mundo, e talvez eu ainda diga um pouco mais…

Sinto ter a vida ao meu inteiro dispor, pronta para me oferecer a intensidade e a hermeticidade suficiente para que eu sempre me afirme como ignorante.

Mas… há um detalhe nisso. Um canto da eternidade. Uma verdade ainda mais única: Deus, me deste a audácia de entender que Tu me amas. Essa é a maior expressão que um ser humano pode ter, o limite dele é entender que há um Deus que o ama. Quando se percebe que é amado por Deus… há impossibilidades? Não. Nem epifania é suficiente como descrição. Humanos, humanamente falando, somos amados por Deus.

Deus, sou este sensitivo: Tenho confiança em ti comparável à perseverança dos santos, enquanto por amor temo a mais pueril e possível apostasia. Por isso guie-me, peço-te isto como um desesperado porque graças a Ti pude conhecer um pouquinho do quão perigosa a vida é e o quão frágil eu sou perante esse perigo.

~Leandro Santtos

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Leandro Santtos SM
Enviado por Leandro Santtos SM em 18/12/2016
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