Unidos e Separados pela Guerra

1° Capítulo

Por volta do ano de 1909 uma familia de origem Alemã migrava para o Brasil. Tinham como destino uma pequena propriedade de terra de parentes distantes, na zona rural do interior paulista. Os tempos eram difíceis para os moradores local e pior ainda para supostos estrangeiros. O casal que tinha apenas um filho, Severiano, um rapaz franzino de 15 anos, que ignorava os conselhos insistentes dos pais sobre os perigos que o espreitavam.

Com o sumiçodo pai, perseguido dia e noite por militares que desconfiavam da sua origem e índole, o rapaz assumiu a responsabilidade de cuidar da mãe, Vicentina, uma jovem senhora com seus 32, 33 anos de idade.

__ Filho aonde vai a essa hora? Esta tudo tão escuro lá fora!

__ Não se preocupe, mãe! __ Volto logo.

Alcides Sebastião, o prefeito da cidade local, tinha a orelha quase pregada no rádio para garantir que seu assessor falaria exatamente o que havia sido recomendado, sobre a construção da igreja que daria lugar a velha capela central. O sucesso ou fracasso da sua reeleição dependia daquele pronunciamento que Julio Prestes, recém-formado em direito, iria anunciar.

__ Maldição! Vociferava o homem ao ouvir as palavras vindas do som de má qualidade do velho rádio, mas que dava para entender perfeitamente os equívocos do rapaz. __ De que lado ele está afinal de contas? Vai arruinar o meu trabalho!

__ Do lado certo! Disse a filha de 13 anos, Ana Rosa, uma rebelde que fazia de tudo para irritar o pai.

__ Onde está a sua mãe que não lhe dá educação, menina? Vai para o seu quarto e não sai de lá sem a minha autorização.

A menina ajeitou o longo vestido de algodão florido que acentuava ainda mais a cintura sinuosa sob o espartilho, pegou um livro e provocou o seu pai outra vez antes de ir para o quarto.

__ Não fique tão revoltado papai! Qualquer hora vai ter um infarto. E antes que o pai pudesse passar outro sermão, a menina atravessou o longo corredor e fechou a porta atrás de si.

__ O que houve, meu Deus? Vocês dois parecem cão e gato!

__ Silêncio Catarina! Deixe-me ouvir o que como o Dr. Prestes vai remediar o erro que cometeu.

__ Catarina Olive̶ir̶a̶ Catarina Oliveira era uma mulher fina, de familia rica e que havia se formado professora num colégio católico de renome. Não costumava tolerar desaforo, mas compreendia as angustias sofridas pelo marido as vésperas da eleição. Por isso resolveu ignorar a grosseria atípica do marido e deixar a sala.

O Sargento Celestino Nogueira, encarregado de recrutar e alistar rapazes para o exercito não descansava. Ia a cavalo para os lugares mais distantes a procura de jovens escondidos pelas famílias que não queria seus filhos envolvidos com as forças armadas. Temiam pela morte dos filhos. Mas a teimosia e determinação do jovem oficial que pleiteava fazer carreira no exército era tamanha, que o argumento que aplicava às famílias e aos jovens os convencia do trabalho heróico que faria pela nação, alem do reconhecimento e plano de carreira que poderiam alcançar. Com isso a escassez de recrutas crescia exponencialmente e se transformara, para realização dos superiores de oficial Celestino, num grande batalhão.

Duas longas horas de entrevista e o Dr. Prestes seguiu a pé até a casa do prefeito, que ficava duas a quadras do prédio da emissora. Ao estender a mão para acionar a campainha a porta se abriu, e de dentro da casa, como um búfalo ferido saiu o prefeito:

__ Você enlouqueceu rapaz? Eu devia ter escutado o conselho do mei vice. João Bosco tinha razão sobre você. É muito jovem e inexperiente para assumir um trabalho desse porte!

Ofendido o jovem advogado encarou o político e disse:

__ O senhor está enganado! Fui contratado para advogar a favor do prefeito e é isso que estou fazendo. No final de semana quando o jornal publicar a matéria sobre a construção da matriz e juntar o projeto com a minha fala na radio, o senhor vai compreender os motivos que me levaram a redirecionar o discurso para aquele rumo.

Confuso com o que o rapaz acabara de anunciar, mas convencido do poder de argumento que o jovem advogado possuía, o prefeito se acalmou.

__ Tá bom, tá bom Dr. Prestes! Vamos, entre e me acompanhe no jantar.

O rapaz tirou o chapéu de freutro preto e gesto de educação e agradeceu o prefeito:

__ Agradeço o convite mas dispenso senhor! Tenho um compromisso para o qual já estou atrasado.

__ Rabo de saia Dr. Prestes? Disse o prefeito olhando com sarcasmo para o rapaz.

__ É muito novo por aqui. Ainda não deu tempo de conhecer a índole das donzelas!

__ Perdão, senhor? Retrucou o rapaz com olhar de reprova à atitude do novo chefe!

__ Ah, deixa pra lá! Suas particularidades não me diz respeito.

__ Sem mais palavras o rapaz fez um aceno com o chapéu e se dirigiu para a praça principal logo adiante.

__ Vamos logo! O que está esperando Franthesco? A água esquentar para você pular daí? __ Não me faça empurrar você dessa árvore!

A turma composta por 7 adolescentes, entre eles a rebelde filha do prefeito, Ana Rosa, cujas atitudes e amigos ele refutava a todo momento.

__ Um bando de inútil protegido pelos pais. Dizia: __ Você vai ver Catarina! Não vai virar nada esses delinquentes desocupados! __ E a sua filha está no junto.