O Primeiro Olhar - 1

É muito interessante como se pode mudar de opinião tão facilmente, pensou Idalina. Depois de quase 22 anos vivendo na Finlândia, era um pouco difícil ter uma ideia da quantidade de biótipos humanos, ou mesmo de culturas, ao redor do mundo. Afinal, nunca havia tido contato com ninguém que não fosse nórdico ou, pelo menos, com um ancestral próximo.

Talvez devido a isso, ou ao fato de que a memória em questão era muito, muito atraente, nunca foi capaz de esquecer esse momento...

Estava caminhando para casa, a beira do Mar de Bótnia, como fazia cotidianamente, apenas não tão cotidianamente devido a seu atual estado de aflição... O vento gélido de dezembro era como navalha em sua pele clara, e Idalina estremeceu enquanto apressava o ritmo de sua caminhada, remoendo suas recentes preocupações.

Naquele percurso habitual entre a feira e sua casa, era comum a presença de muitas embarcações e homens de sua vila, ocupando-se com o comércio e a pesca no Mar Báltico.

Entretanto, naquele dia, Idalina foi tomada por uma súbita sensação de êxtase e, notou ela preocupada com sua saúde mental, sentiu-se mergulhar em algo inesperado.

Mesmo antes de o ver, ela sentiu a respiração entrecortada, o batimento acelerado do coração e a áurea magnífica que se aproximava.

Até que ela o viu. E ele a viu.

E no mesmo momento em que seus olhos se cruzaram, Idalina sentiu uma das botas afundar na areia úmida de forma desajeitada, tropeçando ridiculamente e perdendo o equilíbrio. Antes de cair, porém, notou que estava sendo amparada pelos braços fortes e rígidos daquele misterioso estranho.