Dois Mundos e um coração- Primeiro Capítulo

Portugal, 1580.

A inquisição portuguesa cresce cada vez mais e perseguia todos que estivessem envolvidos em práticas que não cabem aos dogmas da Santa Madre Igreja Católica. Os judeus são perseguidos diariamente e muitos acabam renunciando ao judaísmo e aceitam o cristianismo, tomando o título de "Cristãos Novos". Numa pequena casa, situada em uma rua estreita de Lisboa, mora o Cristão Novo Abner Linhof e a sua filha de apenas 16 anos Sarah Linhof. Os dois aceitaram o cristianismo para deixar a sombra da inquisição longe, mas ainda conservam os meus costumes dos seus antepassados e praticam o judaísmo secretamente.

Até a visinha de Abner, Carmem, entrar em sua casa e avistar um xale de orações judeu (Talit) em cima de uma cadeira, espantada a mulher não fez escândalo algum, saiu da casa como nada tivesse ocorrido e a mesma correu até a igreja mais próxima, e procurou o padre Onofre, para contar o que tinha visto na casa de Abner.

Carmem:

- Foi isso mesmo que o senhor escutou, o Abner ainda pratica heresias em sua casa.

Padre Onofre:

- Vosmecê têm plena convicção do que acabe de dizer!?

Carmem:

- Pois estou dizendo para Vossa Santidade! Aquele homem é uma mentira, o diabo ainda habita a sua casa!!! Se ninguém fizer nada, as almas das pessoas que convivem com a heresia, estão em risco.

Padre Onofre:

- Se acalme Dona Carmem. Vou mandar uma carta ao Santo Inquisidor e o mesmo fará uma visita ao Abner. Fique com Deus minha filha!

Sem demora o padre correu até o seu escritório e pegou sua pena e molhou na tinta, discorreu sobre o papel, relatando o que acaba de saber. Cobrou urgência da visita do Santo Inquisidor, pois tal prática coloca em risco as almas de outros fiéis da Santa Madre Igreja.

Abner trabalha sossegado em sua carpintaria, mexe na madeira com facilidade e dela tira o seu sustento. Pintando uma mesa, o homem repara na maneira com que as pessoas lhe olham, passam longe da sua loja, como se estivessem com muito medo. Como Abner já havia passado uma situação parecida, antes de aceitar o cristianismo, logo ficou desconfiado de que alguém descobriu as suas práticas secretas.

O carpinteiro então fecha a sua loja mais cedo e vai conversar com a sua filha Sarah. O homem parece muito nervoso e assusta a moça.

Sarah:

- O que houve meu pai? Parece que viu um fantasma!

Abner:

- Pior minha filha, muito pior que um fantasma... Eu temo que alguém descobriu que ainda praticamos a nossa antiga religião.

Sarah:

- Mas como poderiam descobrir, se fazemos tudo na maior descrição?

Quando o homem se senta a mesa, olha em direção a uma cadeira e avista o seu manto de orações. O seu coração então pula em direção a boca. Abner corre e pega o manto em suas mãos, e chora.

Abner:

- Eu disse para vosmecê guardar todas as nossas coisas sagradas Sarah! Alguém pode ter entrado aqui e ter visto!!! Estamos perdidos.

Sarah fica apavorada com a constatação do seu pai, os seus olhos ficam cheios de lágrimas e a moça começa a chorar de desespero.

Sarah:

- E agora papai? O que será de nós? Será que já sabem?

Abner:

- Eu sinto cheiro de inquisição no ar e isso não é bom. Sarah vai imediatamente arrumar as suas coisas, você não fica nem mais um segundo aqui nessa casa!

Sarah:

- Eu não vou deixar o senhor sozinho!!!

Abner:

- Obedeça vosso pai, e vai arrumar as suas coisas. Depois de fazer isso, vai procurar abrigo no convento de Nossa Senhora de Fátima. Lá você têm que procurar a Irmã Maria.

Sarah:

- Se o senhor ficar, vai ser preso pela inquisição! Não faça isso!

Abner:

- Estou cansado de fugir minha filha, vou assumir a minha religião... O judaísmo é a minha verdadeira religião... O mal está neles que estão cobertos de intolerância. Agora corra! Não perca mais tempo Sarah.

Vinicios Gonsalo
Enviado por Vinicios Gonsalo em 10/08/2016
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