AS TRÊS MARIAS - capítulo 20 - A CASA ASSISTENCIAL MARIA DOS ANJOS

Quatro meses mais se passaram, e tanto Hermínia quanto Norberto, esbanjavam saúde, fosse no aspecto e disposição, fosse no quadro de exames periódicos, que Lázaro procurava implementar, com a maior regularidade possível. E o resultado era sempre positivo.

Cíntia largara, definitivamente, seu jeito sisudo, e se dividia entre a administração da vinícola, que antes era de seu Alonso, e agora passara, oficialmente, a pertencer à família, e os cuidados que dirigia às crianças. Intimamente, derretia-se mais por Norberto.

Tudo começava a caminhar mais tranquilamente, e os obstáculos iam sendo vencidos, gradativamente. A salinha de espetáculos já apresentava peças de teatro amador, escritas e representadas pelos estudantes; havia, no saguão de entrada, pequena galeria de exposição das obras de arte de alunos, em pintura e escrita; a cada dois meses uma excursão levava as crianças a um passeio didático e divertido, e seu Alonso comprou uma chacrinha, que resolveu transformar em minifazenda, para ensinar sobre a origem dos alimentos.

Uma casa vizinha também foi adquirida e incorporada ao projeto, transformando-se em núcleo de atividade assistencial à comunidade. Ali se concentravam as doações recebidas, que eram encaminhadas às famílias cadastradas ou pessoas carentes que se apresentassem, além de cestas básicas, regularmente distribuídas, e refeições servidas todos os dias. Aliás, toda comida servida às pessoas carentes, era compartilhada pela família e funcionários.

Cíntia e Lázaro, que tinham um jeito mais formal de ser, mesmo que, ultimamente, mais solto e desapegado, resolveram oficializar seu noivado, com uma festa familiar, que também se estendesse às famílias por eles assistidas, então alugaram o salão de um clube local, onde couberam quase quinhentas pessoas, e o arrasta-pé se prolongou até alta madrugada. Seu Alonso adquiriu mais duas casas, vizinhas à casa nova, e as reformou, incorporando-as ao conjunto anterior, formando singela vila familiar, onde cada casal tinha sua própria morada.

Certo dia, quando as crianças já estavam recolhidas à cama e os adultos (Berta, Sal, Ingrid e Celeste) lanchavam, no início da noite de uma sexta feira morna, a luz de Ana deu as caras, novamente. Eles nem piscavam, olhando o ponto brilhante, logo acima de suas cabeças.

- Oi gente! Perdoem-me por interromper sua refeição, mas precisava de um momento tranquilo, para lhes solicitar que providenciem uma reunião familiar, em que todos estejam presentes, a fim de que possamos transmitir algumas informações importantes. Paz a todos!

Como sempre, a voz parecia sair de dentro da cabeça de cada um,mas todos a ouviram.

No dia seguinte, na vila da família, eram dezessete presentes, entre adultos e crianças.

Ninguém sabia ao certo como agir, então foi providenciado lanche leve, ao final da tarde, e em seguida ficaram todos na grande sala, conversando, enquanto as crianças assistiam a um desenho na TV. A conversa seguia tranquila, quando começaram a perceber que os pequenos, um a um, recostavam e dormiam, espalhados pelos colchões, dispostos no chão. Sem que se fizesse qualquer movimento, a televisão desligou, algumas lâmpadas apagaram e surgiu, no meio dos que ali se reuniam, a luz já tão conhecida. Brilhava mais do que de costume.

- Obrigada por atenderem ao meu chamado. Eu e outros amigos, do lado de cá, sempre estamos acompanhando seu trabalho, sem interferir, mas tentando ajudar, dentro do possível. Queremos esclarecer que cada uma das crianças incorporadas à família, foi trazida até vocês com o propósito de ajuda mútua. Ao mesmo tempo em que são beneficiadas, proporcionam ao grupo alegria, bem aventurança, satisfação e realização. Em outras épocas e situações, todos aqui tiveram problemas, uns com outros, que agora estão sendo resolvidos. Eu também estive envolvida em ocorrências menos felizes, mas estamos tendo a oportunidade de nos entender.

Assim que Ana se calou, a luz que indicava sua presença se alongou, formando um tipo de redemoinho de luz, que, aos poucos, deu origem à sua imagem, nítida e luminosa.

Alguns abriam, desmesuradamente, os olhos, enquanto outros choravam. Ela caminhou entre a turma e envolveu cada um, como se os estivesse abraçando. Isso causava sensação real de prazer, mas ninguém se movia, temendo, talvez, que um movimento qualquer pudesse desmanchar o encanto daquele momento. Até Lázaro tinha os olhos marejados.

- Quero lhes pedir que denominem a Casa Assistencial como Maria dos Anjos, que era o nome de uma mulher que muito fez por nós, muito tempo atrás. Intuitivamente, nossos pais nos deram esse sobrenome em homenagem a ela, que num breve futuro deseja voltar a viver entre nós, e que de onde vive hoje, nos envia suas bênçãos, permitindo-me estar entre vocês, Paz!

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 15/07/2016
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