AS TRÊS MARIAS - capítulo 13 - REVELAÇÕES DE FRANCINE

No mesmo instante em que Ana terminou sua mensagem, sua imagem se foi.

Tudo desapareceu, a luz do recinto tornou a acender e uma fragrância floral se espalhou pelo ambiente. Todos se mantiveram sentados, quietos, pensativos, até que Francine falou.

- Hoje, pela manhã, Cíntia me flagrou no jardim, beijando um amigo. Eu já havia decidido falar com vocês sobre algumas particularidades minhas, mas estava sem coragem. O que se passa é que eu e Alonso nos unimos, após a morte de nossos entes queridos, temos muito em comum, somos bons amigos e companheiros. Porém, sua idade mais avançada impede certas atividades sexuais, e minha natureza, ao contrário da sua, minha filha, é de perfil muito ativo e sensualizado. Sinto necessidade de envolvimento físico, sensorial, e depois de muito diálogo, foi Alonso quem me sugeriu escolher parceiros confiáveis e distintos, para minha satisfação.

- E quem são eles, mãe?

- Amigos antigos, do tempo em que ainda namorava com seu pai, Berta.

- E o senhor não se incomoda com isso, vô?

- Nem um pouco, Cíntia. Sua mãe é excelente companhia, e tenho de entender que o que ela precisa, não tenho como atender. O fato de se entender, fisicamente, com esses outros homens, ao invés de prejudicar, até melhora nosso relacionamento, pois a deixa mais feliz.

- O senhor não se sente traído?

- Pois se fui eu mesmo quem sugeriu o procedimento. A traição só ocorre, quando um dos parceiros age de forma a prejudicar ou enganar o outro. Este não é o caso. Sexo é apenas um exercício físico prazeroso, e se praticado com responsabilidade, discrição e os cuidados adequados, nunca será daninho ou atentatório à moral de um parceiro ou ambos.

- Eu nunca tinha pensado dessa forma antes, mas refletindo sobre o que o senhor diz, acho que é uma visão bem mais positiva, desde que de comum acordo entre o casal.

- Exatamente, Salustiano. Tudo através do diálogo e respeito mútuo.

Cíntia levantou e foi abraçar sua mãe, em sinal de entendimento e afeto.

Berta também a abraçou, mas permaneceu em pé e pediu a atenção de todos.

- Quero aproveitar que estamos juntos e encarando revelações, para dizer que estou grávida. Quando tive a confirmação, pensei que talvez fosse o caso de eu e Saul nos casarmos do modo mais convencional, mas conversamos muito, ao longo destes últimos dias, e, ainda que ele continue pensando em casamento, prefiro ter a criança, unir nossos esforços em sua criação e ver o que acontece. Se tudo correr bem, após um tempo poderemos oficializar, ou não, nossa união. Só quero que seja algo legítimo, sem protocolo ou formalidades.

- Minha filha! Desde que cuide de sua saúde, da gravidez, e tenha um relacionamento saudável com Sal, terá todo meu apoio e da família.

- Aproveito para dizer também, que considero Ingrid como minha neta e quero que tenha toda a liberdade de seguir com sua vida como melhor lhe aprouver, e se encontrar outra mulher com quem seja feliz, como foi com Ana, terá minha benção.

- E de nós todos, vô.

- Boas palavras, Cíntia. Aliás, estou construindo uma edícula, anexa à casa, para poder aumentar os aposentos, permitindo mais privacidade e melhor acomodação para Ingrid e para o bisneto ou bisneta que está para chegar. Sinto-me abençoado, em meio a esta família.

Aquela noite foi de festa para todos, e por muitos dias a paz e a alegria predominaram na casa, mas algo não ia bem. Conforme a gestação de Berta avançava, sua fisionomia exibia sinais de alerta. Olheiras, bolsas sob os olhos, pele macilenta e queda de cabelos. Antes tão ativa, agora dormia muito, sentia fadiga, vertigem, comia pouco e tinha muitas dores. Quando fez os exames, pedidos pelo médico, constatou-se que enfrentava gravidez de alto risco.

Seu corpo parecia estar convulsionado. Rins afetados, pressão alta, varizes, pequenas hemorragias e muitas câimbras. A circulação apresentava alteração e o médico chegou mesmo a sugerir um aborto preventivo, mas tanto ela quanto a família estavam apreensivos.

Numa reunião costumeira, foram solidários e disseram respeitar sua decisão, fosse qual fosse, mas a menina repeliu a ideia do aborto e afirmou que iria até o fim, mesmo que tivesse de enfrentar muito tormento. Sal e Ingrid não a largavam um minuto, e após muito sofrimento e luta, foi possível parir no tempo certo, de forma natural, dando à luz um garoto saudável e lindo; mas tudo se constituiu num trauma tão grande, que as consequências não tardaram.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 02/07/2016
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