Sweet Desire - Capitulo 2

Parei de gritar já sentindo minha garganta doendo. Esse seria o final da minha vida? Sendo assassinada, nua e sem ao menos realizar o único sonho da minha vida? O que valeu esses anos de trabalho árduo? Com certeza o James seria o único a sentir minha falta, eu irei logo ao esquecimento.

O que esse homem faria comigo nesse momento? Ele me esfaqueará? Ou um tiro de cara? Ou me serrará ao meio? Ou estuprará? Ou tudo isso?

Não, não posso pensar negativamente, tem que dar certo. Não quero morrer, pelo menos não agora e muito menos pelada. Tem que haver uma chance de eu sair viva.

Ele deu passos em minha direção e eu peguei a escova de esfregar as costas indo acertar sua cabeça. Dependendo da minha agilidade e força, na melhor das hipóteses poderia derrubá-lo ou apenas deixar desnorteado e isso me dará um bom tempo para fugir buscando ajuda. Na pior hipótese ele impediria e faria... Preciso que esse plano dê certo.

Assim que nos aproximamos, ele segurou meu braço. Gritei fechando os olhos temendo meu fim e o coração parou aguardando uma ação desse criminoso.

- O que estou fazendo aqui? – perguntou muito estressado.

Continuei parada sem saber o que responder. Eu ia saber? Vai que dou mais ideias com minha resposta?

- Responde! – gritou exigindo.

- Foi, foi... – eu não consegui responder nada, estou totalmente em pânico.

- Anda! Não me faça perder a paciência!

A pior coisa a ser feita em uma situação dessas é irritar o atacante. O que preciso no momento é controlar minhas emoções e agir de forma pacifica.

- Eu não sei – babulciei nervosa – Você entrou no banheiro do nada!

Ele ficou respirando pesado como se estivesse controlando seu temperamento, e continuei com os olhos fechados e pedindo mentalmente para aquilo ser um pesadelo.

- Como vim parar nesse lugar medíocre? Você sabe de algo me responda! – me balançou e eu gritei assustada.

- Não sei! Estava tomando banho e você apareceu.

Isso só pode está acontecendo porque eu roubei a planta preferida da Sra. Grace, não pode fazer coisas ruins com velhinhas mesmo que elas mereçam. Mas ela tinha gritado comigo injustamente falando que estava sujando sua calçada, tinha que me vingar. Só que isso não é tão grave para haver um castigo desses.

- Que lugar este? Aqui não é meu país – pareceu perturbado, lógico que estaria perturbado.

Nem ao menos lembra em que país está... Quem dirá se vai lembrar-se de ter me assassinado?

- Londres – respondi choramingando.

- Lon-dres? – pareceu ter dificuldades para processar a informação.

- Sim, Londres a terra da rainha...

Ouvi seu suspiro exausto.

- Se vista e venha para sala. Preciso te fazer algumas perguntas – me soltou – Não demore – e saiu do banheiro batendo a porta.

Puxei meu cabelo querendo arrancar uma solução de alguma maneira, mas não vinha nada. Faz um bom tempo que estou tentando pensar em uma forma de escapar, entretanto, nada parece vim. Agora um futuro doloroso estava me aguardando na sala e não tinha nada que podia fazer.

Toc toc.

Gritei me encolhendo.

- Saia logo. Estou com a chave dessa porta – ameaçou a entrar.

Olhei a maçaneta notando que a chave não estava na fechadura, levei as mãos até o rosto dando mais um grito silencioso.

- Estou saindo – tentei emitir uma voz doce.

Aguardei alguma resposta. Obtive nenhuma.

Bufei.

- Tem que ter algo...

Vasculhei o banheiro procurando alguma coisa para acertar a cabeça dele. A única coisa que fui capaz de encontrar foi um pote de vidro com o sabonete líquido em cima da pia do banheiro. Sim, mesmo relutando um pouco, eu teria que voltar ao primeiro plano. Acertar a cabeça dele.

- Isso tem que bastar! – cerrei os olhos determinada.

Abri a porta e o vi de costas olhando para algumas fotos em cima do rack, essa era a hora. Tudo ou nada.

Peguei fôlego e corri na sua direção levantando a mão com o pote como se fosse acertar uma bola no vôlei.

- Nem pensar – ele segurou meu braço a tempo e me fez encara-lo.

- Oh oh meu... – caí de joelhos na sua frente e o ar escapou dos meus pulmões.

Isso não pode se algo real, não faz nenhum sentido. Ele é uma criação que a minha cabeça inventou, não tem como está aqui na minha frente com cara de poucos amigos. Não, só posso está pirando.

- Sente no sofá – mandou.

- Você não é real... Não, não... – balancei a cabeça diversas vezes – O James está armando algo...

É, James já viu diversos desenhos do Chang Soo espalhados pela casa, sempre questionou se eu já o conheci. Com certeza achou alguém idêntico e trouxe para me pregar uma peça.

- James é o seu cúmplice? – indagou

Mas como ele arranjaria uma pessoa idêntica aos meus desenhos? Nunca vi alguém igual a ele para começar a desenha-lo... Eu apenas sonhei e desenhei.

- Como vocês me trouxeram para cá?

Levantei meu olhar, vi seus olhos puxadinhos e abaixei sentindo meu coração palpitar. É ele.

- Hey, está me ouvindo?

Mesmo com a voz um pouco alterada por conta do visível estresse, era gostosa de ser ouvida.

- Você tem problemas mentais? – me balançou

- Acho que não – gaguejei levantando o olhar e logo desviando.

- Acha? – zombou – Acho que mesmo assim pode responder muito bem minhas perguntas.

Fiquei avaliando seu rosto. Os olhos castanhos escuros que tem um brilho tão charmoso; esse nariz que dar um ar de superioridade e sempre foi uma das partes preferidas do seu rosto e logo olhei sua boca...

Mordi o lábio inferior.

- Hey, hey – me balançou – Como você e esse James me sequestraram? Anda responde.

- Nós não te sequestramos – respondi torcendo para não ter reparado o meu olhar.

- Olha, eu estava na minha casa em GangNam ontem à noite, hoje acordei nesse lugar... – apontou para o meu sofá – E aposto que nunca e nem bêbado entraria nessa casa.

- Ele acha que tudo era real? – me perguntei achando graça.

- Real o que? – bufou – Vocês me drogaram e de alguma forma ilegal conseguiram me trazer para esse lugar.

- Não, não... Chang Soo, eu nunca fui para Coréia do Sul, não tem como ter ido lá e te sequestrado – me defendi de sua acusação.

Mas por que estou me defendendo para uma alucinação? Não faz o menor sentindo. O que faço? Não sei se ajo normalmente, ou procuro um psiquiatra, ou um exorcista. Estou sem nem ao menos saber se saio correndo, grito ou desmaio.

- Então o James e mais alguém fez isso, e me trouxe aqui – tentei tocar seu rosto e me impediu – Sou odiado por muitas pessoas, pensei que tentariam algo de novo contra minha pessoa, porém nunca imaginei que me traficariam para outro país...

- Você veio de um livro, eu escrevi sobre você e a Rise...

- Quem é essa Rise? – interrompeu.

- Sua namorada, eu escrevi...

- Para, para – mandou – Rise? Livro? Não quero ouvir maluquices – respirou fundo – Estamos em que dia?

- 30 de junho...

- O que? Ontem foi dia 25 de março... – balançou a cabeça negativamente - 3 meses longe de casa, e provavelmente sendo topado... Quantos vocês exigiram pelo resgate?

- Olha, eu não quero dinheiro nenhum – ele nem ao menos tem, pelo menos não fora do livro.

- Certo agora tudo faz sentido – riu – Tem muitas pessoas que me odeiam – pareceu orgulhoso com o que disse e suspirou sorrindo – Recebo ameaças constantemente. Por qual motivo que se vingar de mim?

- Que? – o olhei confusa.

- Me deixa adivinhar. Pela sua aparência... – me avaliou – Eu fechei recentemente um órgão para ajudar pessoas carentes, era totalmente desnecessário. As pessoas precisam de um hotel para ganhar lucros com turismo, não perder dinheiro fazendo caridade – ele está se gabando do feito? – Mas teve pessoas chatas que me ameaçaram me chamando de desumano e disseram que vão acabar com minha vida. Elas se vestiam mal...

- Você está me insultando? – perguntei em dúvida.

Minha alucinação aparece do nada, chama minha casa de medíocre e depois diz que me visto mal. Beleza.

- Não – sorriu – Acertei?

- Não. Vai se difí...

- Tenho certeza que consigo acertar – pediu meu silêncio – Eu consegui falir a empresa concorrente ano passado e muita gente ficou desempregada – bateu palma – Você é uma delas e está querendo se vingar! – agora estamos em um jogo de adivinhações?

- Não acredito – fiquei boquiaberta.

Ele está exatamente como no início do livro. O empresário desalmado que só pensa no lucro e passa por cima do que for para conseguir o que quer. Eu estou de frente com a versão mal do Chang Soo.

- Você tem sorte de eu está de bom humor – se sentou no sofá, após limpar os farelos do meu biscoito favorito que comprei no mercado ontem – Vamos negociar.

- O que? – fiquei ainda no chão perdida.

Como vou lidar com o Chang Soo mal? Ele é egocêntrico, irritante, não pensa antes de falar e ainda por cima gosta de mandar nas pessoas.

- Eu te pago uma boa quantia se você me deixar ir embora, e te dou proteção. Veja bem, você não precisa dividir com o tal de James e essa Rise – piscou um olho.

E me deu uma certeza de que é o reflexo do mal mais lindo que um dia verei.

- Espero que compreenda – olhei para meus pés querendo tomar coragem para voltar a explicar – Você não tem dinheiro...

Ele começou a gargalhar.

- Risque isso que você falou, sou podre de rico e cheiro a dinheiro – ele é nojento.

- Isso é no livro que eu escrevi todas essas maldades e fortuna, é ficção. Um ser humano normal não faria essas coisas... Você é obra da minha imaginação – expliquei mesmo gaguejando.

Ele ficou me encarando sério.

- Então deixaram a doida para me vigiar? Fico ofendido de me subestimarem tanto – reclamou – Bom, pelo menos acordei dos efeitos da droga... – pareceu se preocupar com algo – Em que lugar estamos de Londres exatamente?

Respondi.

- Ótimo – se levantou indo para direção da porta.

- Onde está indo? – levantei o seguindo mesmo sentindo as pernas bambas.

- Fugir – sorriu presunçoso abrindo a porta.

- Você não tem nada nesse mundo, vai se perder e pode acabar morrendo – o alertei tentando impedi-lo de sair.

- Eu vou ligar para o...

- O Sr. Kim não vai te atender, ele não existe – contei.

- Claro que existe, ele é meu secretário pessoal – rolou os olhos – Me deixa ir logo – e acabou de abrir a porta.

- Chang Soo! – o gritei.

- Bye bye – e saiu andando.

Fiquei parada na porta o observando caminhando de boa. Ele não é real, faz algum sentido eu ir correndo atrás dele e o segurar impedindo de ir embora? Eu devo está livrando dessa doença igual à mulher do filme “a dama de ferro”, só que no primeiro dia de sintoma.

Melhor deixar o Chang Soo falso ir embora mesmo, assim eu fico curada e volta a minha vida normal.

Olhei para a casa da frente e vi a Sra. Grace lavando a calçada, e nos encaramos. Ela é minha arqui-inimiga que sempre faz a sua amiga Sra. Lisa me ameaçar com sua bengala, a melhorzinha é a Sra. Amelia que ficou surda faz uns anos e tenho que praticamente gritar pra ela me ouvir, mas suas amigas brigam comigo acusando de ficar berrando idosas indefesas.

- Viu o rapaz? –gritei para ver se era coisa da minha mente mesmo.

Ela sustentou um olhar sério, como se visse meus pecados.

- A única coisa que vejo é uma ladra dissimulada. Não venha puxar assunto comigo, Becker – odeio quando me chama pelo sobrenome e entrou.

- Pelo visto só eu o vi mesmo – o importante disso tudo é que estou curada.

O resto do meu dia foi buscando um pouco da sanidade que me restava. Ouvi musica, arrumei a casa e tentei até mesmo tirar uma soneca, só que o ocorrido de hoje de manhã não saiu da minha cabeça.

O Chang Soo me pareceu uma pessoa tão problemática de lidar, como se fosse um verdadeiro furacão de estresse. Se a Rise resolver dar um passeio pelo meu apartamento algum dia, dou um presente por conseguir fazê-lo ficar normal e perfeito.

Mas como ele consegue ser tão lindo? Ele conseguiu superar todas as minhas expectativas de sua beleza, com certeza o Chang Soo falso não era humano, o que é muito óbvio.

Peguei meus cadernos de desenhos, em todos eles tinha o Chang Soo e em vários ângulos, roupas, expressões... Deu para perceber que passo tempo de mais pensando nele.

- Idêntico – fiquei boquiaberta.

Olhos, nariz e boca, todos os detalhes que consegui reparar, apesar de nervosa e muito envergonhada, eram muito parecidos. Como minha mente consegue ser brilhante até na hora de desenvolver uma doença que faz o meu “malvado favorito” aparecer na minha frente?

- Sou demais! – de alguma maneira me senti o Chang Soo falso se gabando.

Levei meu olhar até a gaveta trancada onde estava o livro impresso e mordi o lábio inferior.

- Será que exagerei?

Ouvindo-o falar de fechar órgão destinado a pessoas carente e ficar feliz por desempregos alheios, me fez perceber o quão desumano o Chang Soo é no começo do livro. Mas a história está tão encaixada, que se eu modificar vou ter que ficar mais tempo escrevendo. Se for para ficar tudo perfeito, não me importarei de ficar mais três anos escrevendo.

Levantei indo pegar o livro para ler para ver onde começaria as modificações que talvez tivesse que se feita, mas parei ouvindo o barulho da chuva batendo na janela. Lancei minha atenção para as gotas grossas escorrendo pela janela. O tempo deve está mais gelado que ontem lá fora.

Abracei a mim mesma e fiz beicinho.

- Chang Soo falso sumiu ou ainda deve está perambulando sem rumo? – me questionei.

Não, eu estou curada e com uma alucinação estaria sentido frio por aí?

Comecei a caminhar de um lado por outro, quando fui perceber estava na janela roendo a unha aguardando-o parecer pedindo abrigo.

- O que estou fazendo? – balancei a cabeça e fui colocar ligar a TV.

“Mais um caso de assassinato em Londres “ o âncora anunciou no jornal.

“Esse é o segundo caso este mês de turistas perdidos e sem carregar nada de valor” a co-âncora continuou.

- Na via das dúvidas... – desliguei a TV e peguei a chave do carro.

Fui dirigindo devagar, forçando olhar mesmo com dificuldade todos os lados com total diligência, poderia correr o risco de passar por ele e passar direto. Isso não seria nada legal.

Mas o que acho que estou fazendo? Procurando o personagem fictício que inventei que de repente apareceu na minha e ainda jogou na minha cara que tenho problemas mentais. O que infelizmente não está errado, porque a essa altura eu duvido da minha sanidade!

Só mais cinco minutos, se não encontra-lo volto para casa e tento começar a modificar o livro. De repente se ele vir a aparecer na minha frente novamente seja mais educado.

Minutos depois vi alguém agachado embaixo de uma pequena marquise de um açougue, parei o carro e forcei a visão naquela direção. Seja o Chang Soo falso ou qualquer outra pessoa, estava encharcado e tremendo de frio.

Procurei o guarda-chuva no carro e tive a infeliz percepção tardia, não trouxe a droga do guarda-chuva.

- E agora? – cocei a cabeça pensando – Dana-se – tirei o casaco e usei como guarda-chuva.

Corri até a pessoa a agachada e chegando a sua frente, ela levantou o olhar e vi a cara triste e confusa do Chang Soo.

- Maluca? – é assim que ele me vê mesmo?

- Vamos embora – o chamei.

Ele continuou agachado, parecia sem forças para fazer nada. Abaixei ao seu lado.

- Vamos – insisti.

- Eu liguei para todo mundo – informou – Todos os meus familiares, amigos, sócios, funcionários e até adversários de negócios – riu amargo – Todos deram como número não existente...

- Hm... – como eu poderia melhorar o seu humor?

- Eu estou confuso – desabafou – Quero está na minha empresa infernizando o Sr. Kim com os meus pedidos constantes que o aborrecem e o advogado Park precisa ir ao tribunal me defender nos casos como sempre – o Sr. Kim sofre muito no livro e ele sempre é processado – Quero minha vida de volta.

- Eu não posso te prometer isso – resolvi ser sincera – Mas posso ser seu porto seguro por enquanto.

Ele me encarou surpreso com minhas palavras e suspirou exausto.

- Aceito.

Luciana S
Enviado por Luciana S em 30/06/2016
Reeditado em 30/06/2016
Código do texto: T5682869
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.