Nota da autora - Estes textos fazem parte de um grupo de escritores do facebook chamado escambanautas, cuja proposta é escrever microcontos a partir de uma palavra dada por dia. Boa leitura.


- PEQUENOS PRAZERES 2 -
 
 
Menino
 
Encostava o rosto no vidro da loja sempre que voltava da escola. Ali, brilhando no meio dos móveis, a máquina de escrever parecia uma rainha entre súditos. Passou meses juntando trocados em uma caixa azul. No dia da compra ia tão empolgado que nem viu o bonde. O dinheiro pagou seu caixãozinho.

-v-

Cruz

Abraçou aquele corpo torturado e ainda quente, inevitável destino. Rebelde, subversivo, perigoso. Para ela, apenas o filho único. Segurava a mão inerte entre as suas, as lágrimas lavando os rastros da imolação. Lá no alto, deitada sobre a areia entre cordas e lanças, a cruz o libertava da missão.

-v-

Cretino

Rui vivia enchendo Lu com brincadeiras tolas. Um dia ligou dizendo que havia comprado um carro novo para ela. Chegou com uma vassoura, pôs sob a escada e falou, rindo: Não é lindo? Ela sorriu, agradecida. Antes de montar na vassoura e sair voando, ainda teve tempo de transformar o marido em um sapo.

-v-

Sogra

- Querida, você gosta mesmo de mim? Perguntou a sogra à sorridente nora.
- Gosto como se fosse minha mãe. Respondeu a matricida, amolando a faca.


Sogra (de novo)

Jarbas inventava toda desculpa para não trabalhar: Azia, quebranto, espinhela caída. A pobre esposa, cheia de contas para pagar, foi se aconselhar com a mãe. No dia seguinte a sogra de Jarbas desembarcou na sala com malas e cuias. Naquela mesma tarde ele arrumou uma colocação na Marinha Mercante.

-v-

Ópera

Quando conheceu Thiago, Suellen Victória só curtia funk e batidão. O marido, todo fino, insistia em levá-la à ópera, museus e saraus literários. No dia em que ele foi transferido para uma agência minúscula na menor cidade do mundo, ela ficou radiante. Soube que lá não havia teatro.

Mais Ópera


Conquistou a bela soprano se dizendo amante da ópera de Mozart. A paixão durou pouco, logo ela descobriu que a flauta dele não era mágica.


COLABORAÇÃO DA QUERIDÍSSIMA CRISTINA GASPAR- UMA VERSÃO TODA DELA DOS TEXTOS


MENINO
Pela vitrine, das folhas amareladas saltam versos de dor, tão fores quanto às dores que lhe queimam as chagas, pobre menino, sem poesia, duas esquinas depois cai prostrado, amarelado com um suspiro quase inaudível.

CRUZ
Crucificado em seu pantanoso calvário, o clérigo pecador, sentia os pés afundando lentamente, pouco a pouco via o céu cada vez mais longe, tão distante quanto de seus votos se afastou.

CRETINO
Acreditando que sendo falso com sua esposa, fingindo um amor que não sentia, se achava o tal, mal sabia que seus cornos, logo logo não passariam mais pelos arcos branqueados da varanda.

SOGRA
Inês era um modelo de sogra, linda como um objeto fino de decoração, Álvaro, seu querido genro a imaginava como um lindo bibelô, digno de ser admirado, um belo dia, presenteou sua esposa com seu corpo empalhado, colocado ao lado da lareira da sala.

SOGRA (DE NOVO)
Larissa tinha um gênio, que em seus sonhos atendia a todos os seus mais absurdos desejos, de um desses sonhos não mais acordou, sua pós vida virou um pesadelo, pois sonhava com ardentes embates de alcova, com seu próprio genro.

ÓPERA
Nem o fantasma tão exibido nas montagens da ópera, poderia assustar mais, do que a face deformada pelo excesso de botox, que a idosa atriz vislumbrou em sua imagem no espelho.Boa noite

Delícias de Cristina

Interção do Poeta Dilson, agradeço



Parabéns pra você neste lindo dia
Hoje tem festa no seu calendário
Deus lhe abençoe com muita poesia!