O Peso da Sinceridade

Ligou para o celular do amigo, deixou montes de impropérios na caixa postal. Estava transtornado. Trinta minutos depois, bateram à sua porta. Entre, não está trancada. Estou aqui fora, na sacada. Quéisso, amigo, não faça nada! -- gritou o outro, achegando-se. Para um escritor a morte é não mais conseguir escrever... E o que te falta, homem? Idéias. Quando estou bem não escrevo, nada tenho a dizer. Quanto mais sofro, me incomodo e passo mal, observo: mais e mais vontade tenho de escrever. Ora, homem, então é isso: desejo que te corra tudo muito, muito mal! Falso! -- foi a última coisa que o outro ouviu do amigo. O peso da sinceridade: 68 quilos e muitos quebrados, efeito de quando se é jogado de um décimo-terceiro andar.

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Revisado em 17.09.2010