Ainda palavra a alguém de outro sítio



        Eu te enviarei, sim, o  "Hidra Inofensiva para Heroísmo Nenhum", esse meu livro catártico, sem editora, 'quase' anônimo, sem prefaciador, sem lançamento. Eu o enviarei para ti, no fim deste mês ou no início do próximo, esse livro que me marca o fim de um tempo e a necessidade do início de outro, por enquanto sem rosto, sem corpo, ainda. Que me seja um tempo de funda depuração, um tempo para despreendimentos (nunca de esquecimentos, que isto não me cabe nem existe em mim),  um tempo de libertação para mim e para os seres a mim ligados, incluindo-te  a ti, claro. Um tempo, enfim, talvez com o rosto da minha maior e mais necessária Solidão, não no sentido aparente, no sentido fundante da palavra. Se tiver que assim ser, que seja uma Solidão fecunda,  rica de mim até onde eu ainda possa e consiga. Que assim te seja, também (se tiveres que encarar a ela, a esta Solidão).
        Jamais esqueço nem poderei esquecer do que foi tão fundo e forte: o que 'vivemos' nós dois. Apenas urge que eu admita: meu sentimento por ti sofreu imensurável metamorfose  e hoje te vejo como um amigo companheiro de  árdua, mais do árdua jornada já sem possibilidade efetiva de qualquer efetivo 'esclarecimento'; infelizmente, porque as máscaras nos ficaram "coladas à cara" - já diz Pessoa. Não tenho como negar que essa dor me acompanhará até o derradeiro dos dias. Fazer o quê... É preciso prosseguir, com essa e com outras dores que me couberam, indeléveis. Não sou a única, jamais o serei, a pagar preço assim. Que eu consiga, apesar de tudo, transcender o necessário e o possível disso tudo.
        Fica bem, o mais que consigas. É o  que tentarei fazer também, por mim, para mim. Fica bem.
Zuleika.