CHAPEUZINHO VERMELHO........-PARTE II

1---É GUILHERME quem nos conta e EU transcrevo em resumo e amplio de longe em longe:

“Originalmente, os contos de fadas eram estórias populares não dirigidas às crianças e sim textos ligados à ancestralidade, grandes ritos de passagem da vida humana, como por exemplo o desconhecimento de sua origem, “O patinho feio”. No século XIX, apropriação da burguesia como simbolismo para enfatizar princípios, a dita ‘moral da estória’... “Gata Borralheira”, recompensada porque foi obediente-submissa-sofredora - lado transgressor, ir a um baile proibido pela madrasta, satisfação do desejo de ir à festa e conseqüente casamento com o príncipe. --- Contos de fadas foram inicialmente recolhidos na Itália, século XV, e PERRAULT, na França, reuniu 30 contos orais do folclore sob o título “Histórias da mamãe ganso”; no final do século XVIII e início de XIX, ganharam maior espaço na literatura - os IRMÃOS GRIMM (linha mais idealista e romântica, pela época) recolheram 212 contos tradicionais na Alemanha, publicados entre 1812 e 1822, “Contos de fadas para as crianças”. Outras estórias inspiradas no folclore escandinavo, porém recriações do dinamarquês HANS CRISTIAN ANDERSEN. --- Numa época de mentalidade atrasada (como será acima de 2017?), em primarismo protozoário, a direção de uma escola proibiu a encenação de ‘Chapeuzinho Vermelho” porque na cesta para a vovó havia uma censurável garrafa de vinho, “capaz de convidar a garotada ao alcoolismo”, pode? --- Feliz balaio francês! Sim, a vovozinha do outro lado da floresta por certo não seria uma alcoólatra comum, de cair na calçada nem tornou cúmplice a netinha... (Ah, o ‘vin ordineire’ que empilecou Noé e filhos! Interessante citar hoje o salvador vinho nas Bodas de Caná e o unificador-irmanador do sangue do Filho de Deus na Ultima Ceia.) Viva PERRAULT na Academia Francesa! --- E de que constaria o restante do farnel? Floresta: país de aventuras, mistérios, entre ‘o jardim de infância e a caatinga da velhice’, povoada de seres verdadeiros e fantasiosos, abusões, bandidos, índios, flora-fauna venenosas e vorazes, noites de bicho-papões, dias de emboscada... Lobo Mau atrás da árvore, de olho na cesta, 1697. Desde TAILLEVENT (não descobri data), a culinária francesa estabelecia assados e molhos. Em Versaille, LUÍS XIV devorava menus, em linguagem contemporânea, de ‘3 digitos’, fora a plebe ‘criat cuisine’, como a cigarra de LA FONTAINE - para os coitados, a coletânea “Cuisine Paléolitique” de JOSEPH DELTEIL, repetindo CONFÚCIO, “viver de pouco”: sopa de feijões-verdes (conforme a estação), feita no vaso de ‘grès’, o ‘grasel’ descendente do Santo Graal; favas com porco; ‘gigot’ (pernil) de cordeiro, o ‘agnus dei’), com cebolas e pepinos; presunto; tomates; o frango dominical indicado por FRANCISCO I; o ‘cassoulet’ (cassulê francês, versão da ainda não existente feijoada); ‘escalope’ (bife com champignon e molho de vinho) de vitela; omeletAs; geléia de ‘grattecul’ (fruto da eglantina ou roseira selvagem); carne de vaca; alho; o cozido; ah, o imprescindível queijo e frutas da estação... /Jamais cesta assim “básica” em território brasuca!!!/ (Nada de arroz ou peixes e frutos do mar (levaram o cozinheiro VATEL ao suicídio: pesquisem!). --- De olho nesta cesta básica (ou a cesta era “outra”???), o Lobo Mau devorou a vovozinha, meteu-se na sua camisola, na touca, na cama... e tocaiou Chapeuzinho que não sabia de nada, comeu-a e banqueteou-se com as vitualhas (gêneros alimentícios) de PERRAULT, o pão francês (o melhor do mundo, artesanal antes da industrialização /trocadilho!/ em massa) e o vinho francês (o mais famoso do mundo). Lobo Mau até engordou........ --- Recado para a tal escola (crônica de maio/1990): “O que faz mal, não é o vinho, é a má companhia”... Certo?”

2---Foi JOÃO quem escreveu o livro e aqui um resumo do que LAURA comentou:

“Triste nova versão em “FITA VERDE NO CABELO”, com a peculiaridade: autor JOÃO GUIMARÃES ROSA, estória em “Ave, palavra”, publicação póstuma reunindo contos, poesias e notas de viagens, inéditos e escritos, publicados em jornais e inéditos, no período 1947/67. A “Fita...” foi editado em separado, com ilustrações acessíveis a jovens. Conhecido conto Chapeuzinho Vermelho, recolhido por PERRAULT e pelos IRMÃOS GRIMM em diferentes épocas-países-versões. A narrativa mostra origem na abertura tradicional: “Havia uma aldeia em algum lugar”, atemporal e indefinida, ao terreno da fantasia, estória curta, mostrando uma menina diferente: “Todos com juízo suficientemente, menos uma meninazinha” - a da fita, verde aqui simbolizando a inocência, a ainda imaturidade enfatizando posteriores solidão e tristeza da protagonista. Escolhe o caminho mais longo para levar um pote de doce e uma cesta de framboesas......... Ao atravessar o bosque, só viu lenhadores, lobo já havia sido por eles eliminado. Passeio poético, porém a avó - já muito velha e enfraquecida - morreu diante da neta, logo após o diálogo do conto original acrescido de um pungente sentimento da finitude humana: “Vovozinha, mas que lábios, ai, tão arroxeados! / - É porque não vou mais poder te beijar, minha neta...” --- A viagem ou a trajetória do vai e volta nos contos tradicionais são metáforas da penetração do indivíduo em si mesmo - o autoconhecimento. Neste conto, BRUNO BETTELHEIM vê o tratamento simbólico da questão sexual (o homem maduro X a jovenzinha... verde?!...); não o característico final feliz dos chamados “contos de fada” na recriação de ROSA, invenção rara do entrecho e construção inovadora da linguagem - ao contrário, a menina se assusta com a presença da morte, manifesta medo, a avó não estando mais “lá” para ajudá-la.”

NOTA DO AUTOR:

Repito sempre - adaptar não é plagiar nem é “falta de criatividade”. Até mesmo SHAKESPEARE recriou muitas das suas obras eternizadas partindo de raízes da mitologia grega.

FONTES:

“A cesta básica de Chapezinho Vermelho”, crônica de GUILHERME FIGUEIREDO, e ‘Chapeuzinho’ sem lobo mau, comentário de LAURA SANDRONI - Rio. Jornal O GLOBO, 2/5/90 e 14/10/92.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 30/07/2017
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