Mito gramatical: ‘’A vírgula serve para marcar uma pausa’’. (por Caetano Cambambe)

É possível encontrarmos, se tentarmos pesquisar mais um pouco, esse mito muito bem presente em quase todas as gramáticas e livros didácticos sobre Língua Portuguesa. Esse mito vem sendo divulgado desde os tempos mais remotos (Antiguidade Clássica até ao término da Idade Média), algo que ainda é notório nos dias de hoje.

Sem uma "desconstrução" daquilo que vem estipulado nos livros que parecem ser, diante de muitos, lógicos e convincentes, alguns professores servem-se de autênticos "reprodutores" de equívocos como esse a fim de serem ensinados aos estudantes.

A vírgula, como qualquer outro sinal do seu grupo, é simplesmente utilizada para facilitar a compreensão daquilo que escrevemos, daquilo que se lê, para facilitar que a mensagem lida seja compreendida pelos ouvintes e, em outros termos, para indicar o isolamento de certos constituintes sintácticos (que pode ser por norma ou por questão de ênfase ou estilo) dos demais existentes.

Em tempos já idos, estipulava-se que a vírgula era um sinalizador de pausa. Pesquisas mais recentes, actualizadas e avançadas dão conta que essa teoria é equivocada e que, infelizmente, talvez por falta de visões mais sérias, ainda se transmite na escola e se encontra em numerosos livros didácticos: é a febre ‘’maria-vai-com-todas’’.

Quando um Professor diz ao estudante que ‘’a vírgula serve para marcar pausa’’, esse Professor velho, arcaico e preso no tradicionalismo só está a formar e a constituir, o que é preocupante, novos ‘’atropeladores’’ da sintaxe da vírgula. Alguns de seus alunos, caso não despertarem cedo, serão bons empregadores da vírgula incorrectamente.

Por que isso?

Porque, ao dizer isso aos estudantes, eles vão usá-la simplesmente para marcar pausa em qualquer parte textual que bem acharem, o que nem sempre estará de acordo com as normas vigentes sobre seu uso correcto.

Actualmente, devido a esse facto, algumas pessoas empreganam-na exactamente para isto: marcar pausa, pois foram assim que aprenderam. E quando esse uso é posto em prática, muitas vezes atropela-se as regras de seu emprego, casos proíbidos e obrigatórios, facto que é bastante visível em produção textual de muitos estudantes, de baixa, média ou escolarização mais elevada.

A vírgula é usada, dentre inúmeras razões existentes, para se dar sentido àquilo que desejamos, por intermédio do que escrevemos, transmitir. Ora, o seu emprego não denota pausa alguma e não está associada a nenhuma pausa ou respiração. Ou seja, em nenhum texto do mundo bem escrito a vírgula está aí presente, como muita gente pensa, para marcar uma ‘’breve pausa’’ na fala: está aí, pois, para indicar, por vezes, algum isolamento sintáctico, para dar destaque a alguma coisa, para deixar o texto mais atraente e fácil de se compreender sem embaraços, indicando algumas pistas para a sua boa leitura e compreensão: ela estará simplesmente aí para servir de uma reguladora textual para uma leitura aceitável (por parte de quem lê) e para uma compreensão sem rodeios (por parte de quem ouve ou, caso possível, lê também), mas nunca para assinalar uma breve respiração ou pausa alguma. As pausas notáveis na fala não surgem porque alguém empregou a vírgula para tal efeito, mas sim pelas funções que ela aí desempenha: e por estar a desempenhar algo que deve ser notado, aquela breve pausa é necessária, mas isso não significa dizer que ela foi, na escrita, exactamente aí colocada para provocar pausa na fala de quem lê.

As pausas (correctas) indicam algum valor desempenhado pela vírgula no texto, o que nem sempre tal pausa vai coincidir com a pontuação aí presente, e assim vice-versa. Logo, a vírgula é usada para quase tudo, menos para marcar uma pausa ou respiração.

Quando um escritor escreve, ele não está nem aí preocupado se você deve ou não dar uma pausa na fala a fim de respirar!

CaetanoCambambe
Enviado por CaetanoCambambe em 09/03/2017
Código do texto: T5935325
Classificação de conteúdo: seguro