Fisicamente, estava muito além da estatura para sua idade. E, embora o intelecto tivesse momentos de desalinho, aos poucos, mostrava queda para a aviação.  Yuri acreditava  que quando crescido,  o filho seria aviador. Piloto experiente a cruzar os céus como príncipe das forças armadas britânicas. Por isso, assim que nascido  o primogênito, o pai quis registrá-lo com o nome Gagarin.  A mãe protestou:
—Não quero mais um ateu dentro de casa!
— Não vamos brigar. Fernão é o nome do menino.
Olhar distante, desatento aos estímulos externos, parecia viver um mundo diferente daquele dos falantes. Ele criou seu próprio vocabulário para dar nome às coisas, de modo que sua comunicação só era possível com a família, e com as pessoas do relacionamento. Bité era chupeta, e menino, miné. Em seu país, a rede pública de ensino, não estava capacitada para lidar com crianças portadoras de necessidades especiais, se os pais do menino não o houvessem remanejado para um colégio particular, Fernão jamais se tornaria aviador. Contudo, até realizar seus sonhos de pertencer à Esquadrilha da Fumaça,  ainda teria que navegar muitas milhas. Quis brincar com uma réplica do Titanic. O menino não gostou. O medo de naufrágio o atormentava. Seria trauma por causa do Almirante Cohrne? E puxava conversas estranhas:
— Peixe gosta de picolé?
— Que conversa! Onde peixe vai encontrar picolé pra chupar?

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Texto: Adalberto Lima - Estrada sem fim...(em construção)
Imagem: Internete