ACULTURAÇÃO, INCULTURAÇÃO, COLONIZAÇÃO e INDEPENDÊNCIA LINGUÍSTICA

Entende-se, por 'ACULTURAÇÃO e INCULTURAÇÃO LINGUÍSTICA', a adopção, a assimilação e a recepção de hábitos linguísticos alheios, isto é, de uma cultura linguística dominante a um sistema linguístico que, embora não-padrão, demonstra-se autónomo, independente e capaz de viver por si só. Essa aculturação e inculturação linguística são frutos da excessiva valorização que o Estado angolano e as escolas dão à Norma Europeia, ideial esse que não se adequa ao contexto linguístico angolano; ideial esse que demonstra o seu não pertencimento a este lugar chamado Angola, terra de Ngola Kiluanji e de Njinga Mbandi; ideial esse que menospreza e deprecia o falar (bonito e) legítimo dos angolanos.

Somos um país, de acordo com a história, independente. Parece-nos, e essa é a nossa opinião, que essa independência só vigora nalguns sectores; noutros, quase que a expressão "independência" é inútil e que não se faz sentir.

Somos, actualmente, contrariando o que a história diz, um país totalmente dependente de tudo um pouco. O próprio angolano, no seu país, vive como se fosse um preso ao qual lhe foi negada(o) a liberdade. Essa dependência é notória, por um lado, pela triste liberdade que nunca foi dada aos filhos desta terra.

Livrámo-nos dos "xicotes" dos colonizadores, dos tempos nos quais éramos vistos como não-pessoas; mas falta-nos, ainda, livrarmo-nos desta (maldita) língua predominante em todas instituições do Estado; da língua estrangeira que a escola vem-nos incutindo por intermédio de um ensino tradicionalista como se fosse o único jeito de falar português; do ensino gramaticista que deprecia, estigmatiza e discrimina o (bom) falar deste povo que reside em Angola e que tem o português angolano como o seu veículo de comunicação, mas que não deve usá-lo, nalguns contextos, por ser diferente ao modelo estático, imutável e morto que é o português padrão; da língua falada pelos jornalistas papagaios; da língua destes advogados e juízes assimilados, enfim.

Se somos um país independente, por que estar mais sob o domínio linguístico dos portugueses?

Já não é hora de, pelo menos, termos um instrumento próprio a fim de valorizarmos propriamente o português "made in Angola" e demonstrar ao mundo que em África, mormente em Angola, fala-se do bom português que, por conseguinte, é local?

Já não se passaram muitas décadas desde que o mundo, em especial o Brasil, viu-nos independente?

Há que se respeitar, até porque sem eles a língua e a gramática não vivem, todo aquele falante que não se enquadra à norma culta da língua portuguesa de Portugal, por "n" razões que nós conhecemos. É muito difícil, em se tratando da língua portuguesa usada por culturas e regiões diferentes, que haja um único falar para todos os falantes espalhados por quatro continentes.

Há que se respeitar e aceitar, embora a gramática seja contra, o falar do povo angolano, visto que se refere à diversidade de pessoas espalhadas por esse país extenso e multicultural, bem como algumas diferenças do ponto de vista geográfico, social, etc.

A língua portuguesa foi-nos imposta. Quando os portugueses chegaram ao nosso país, decerto que não encontraram um povo mudo, sem cultura, sem língua e linguagem, etc. Encontraram, deveras, um povo sociolinguistica e culturalmente forte, com os seus hábitos e custumes próprios.

É trabalho de todo e qualquer angolano livrar Angola desta colonização linguística portuguesa, partindo da valorização e aceitação das diferenças existente entre o português falado localmente e o que deveria ser pragmaticamente convencional.

CaetanoCambambe
Enviado por CaetanoCambambe em 30/08/2016
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