Nós também somos artistas
Eu também mereço apalausos
Quando ouço tantos causos
De desolação e medo
E ainda assim resisto ao desespero
Eu também quero fama
Por ter teto, rango e cama
Nessa onda de desemprego
Que ataca a nós, mortais
Nós somos bailarinos
Uma orquestra de violinos
Embalando o toar dos sinos
Da catedral de notredame
Nós somos todos palhaços
Rolando em estilhaços
Comendo só os bagaços
No banquete dos infames
E eles dizem veementes
Que a queda é iminente
E que a nossa derrocada
É o melhor para nossa vida
E eles ficam sorridentes
Com o brilho de seus dentes
De placas douradas
Nos sugando, parasitas
Nós também somos artistas
Quando fazemos malabares
Com os trocados de casa
E nós também somos artistas
Quando contamos as moedas
Pro busão da molecada
Nós sorrimos como modelos
Sustentados por prozac
Porém sem fotografia
No tapete vermelho do projac
Nós também somos artistas
Somos os contorcionistas
Desse pobre picadeiro
Nós também somos artistas
Somos porteiros, diaristas
Os risonhos lojistas
Que te vende as joias e comida
Nós também somos atores
Fingindo que não temos dores
E dançamos sob os tambores
Das máquinas de cartão de ponto