Avante, Lanceiros!

Se somos renegados é porque fomos relegados

Esquecidos, negados, em tua história, teu relato

O que é fato? O que de fato? Só o povo paga o pato

Traídos por Canabarro, embriagados, desarmados

Atacados de surpresa por soldados desalmados

Põe as cartas sobre a mesa! Quem foi sacrificado?

Já cumpriu teu papel? Agora será exterminado

Preferiria aquele fel? Nem ter sido libertado?

De guerreiro virei réu, julgamento à revelia

Olho firme para o céu, pressentindo uma chacina

Será essa minha sina? Não sou exército farroupilha?

O que o senhor temia? Liberdade é o que eu pedia

Mas tua vontade é tirania, sempre se opõe à minha

Eu só queria a alforria e formar uma família

Mas se mesmo neste exército nós éramos minoria

Fomos parte desse séquito desde aquele dia

Da revolta inicial, deflagrada na província

Invadindo a capital, formando a infantaria

E foi dia após dia aumentando o contingente

Que sirvam nossas façanhas de modelo ao continente!

Pela verdade, liberdade, dessa revolução fomos parte

Insurgentes, combatentes, levantamos o estandarte

Reconhecimento, monumento, só isso que queremos

Coragem provoca medo. Avante, Lanceiros!

Cidade das charqueadas, escravidão que eu sofria

Com suas forças derrotadas, me prometeram a anistia

Se me juntasse às fileiras, ofensivos, sem trincheiras

Partindo pro ataque, com orgulho à bandeira

Aceitei, me armei, pela república peleei

Meu valor eu bem sei, muito mais do que um rei

E o exército está formado por negros e mulatos

Centenas de escravos, o comandante contestado

Mas eles não entendem o quanto somos combatentes

Melhor que essa gente que carrega uma patente

Pois na hora da luta somos nós linha de frente

Combatendo com bravura, o terror se faz presente

Na face do inimigo, lança, adaga, habilidade

Minha fúria no combate representa liberdade

Tua luta é econômica, a minha é muito mais

Uma realidade mais harmônica, lutamos pela paz

1° Corpo formado, reunidos e organizados

Domadores selecionados, sempre os mais bravos

Ninguém está por baixo, somos trunfo nesta guerra

Que sirvam nossas façanhas de modelo à toda terra!

Pela verdade, liberdade, dessa revolução fomos parte

Insurgentes, combatentes, levantamos o estandarte

Reconhecimento, monumento, só isso que queremos

Coragem provoca medo. Avante, Lanceiros!

1ª linha do Exército, 2° Corpo de Lanceiros

Montando quase em pelo, só com o poncho protegendo

Somos mais que quatrocentos repelindo o inimigo

Uma avalanche contra o Império, que pressente o perigo

E usa de suas armas de estado escravocrata

Duzentas, mil lambadas, pela Lei da Chibata

A resposta então foi dada na capital, Caçapava

Pelo Presidente da República, liberdade decretada

Somos guerreiros, operários, não somos mais cativos

Também somos ministros, como Mariano e Domingos

Agora 8 companhias, combatendo com denodo

Somos vítimas da mentira, nossa alma está em jogo

“Nobre povo rio-grandense. Povo de heróis, povo bravo!

Conquistaste a independência, nunca mais serás escravo.”

Faz de conta que acredito nisso escrito nesse hino

Se pra conquistarem a paz fomos jogados ao inimigo

Pra eles nossa libertação não era conveniente

Soltar negros combatentes, cada vez mais conscientes

Tua versão não me engana, contra meu verso controverso

Que sirvam nossas façanhas de modelo ao universo!

Pela verdade, liberdade, dessa revolução fomos parte

Insurgentes, combatentes, levantamos o estandarte

Reconhecimento, monumento, só isso que queremos

Coragem provoca medo. Avante, Lanceiros!

No ápice da revolução fomos entregues ao Barão

Foi “surpresa” ou “traição” o episódio em questão

Até hoje ignorada, levantada através de cartas

Uma história mal contada, aos poucos revelada

Por muitos é negada, pra mim é claro o plano

Novembro, 14, madrugada, 1844, o ano

Serro dos Porongos, atual Pinheiro Machado

Ali, entre os morros, fomos largados desarmados

Maldito Canabarro! Sempre nos quis escravos

Da abolição do cativeiro sempre foi contrário

Atacados, dizimados, por tropas imperiais

Massacre! Nosso legado: Ponche Verde, a paz

Agora queremos mais, queremos reconhecimento

Cultuar os ancestrais, entre eles ta o negro

Com apoio do governo, é histórico, é cultural

É reconhecido este local em âmbito nacional

Pro turismo é essencial, pra cultura é vital

Então que saia do papel o tão falado memorial

Nosso papel fundamental, a história que resume

Que sirvam nossas façanhas de modelo à juventude!

Pela verdade, liberdade, dessa revolução fomos parte

Insurgentes, combatentes, levantamos o estandarte

Reconhecimento, monumento, só isso que queremos

Coragem provoca medo. Avante, Lanceiros!

Luciano Pétersen
Enviado por Luciano Pétersen em 20/05/2017
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