Perdido ao Relento

Muitas vezes me questiono, na maioria não entendo

Quem eu sou? Pra onde vou? O que que eu pretendo?

Qual será minha importância em todo esse contexto?

Do passado a lembrança, agora perdido ao relento

É Martelinho, é Barreiro, não importa sua marca

Me marcou, tipo uma faca, cortou tudo, até migalhas

Minha vida, uma desgraça, no fundo da garrafa

Autoestima estraçalhada, experimentou, foi sua falha

Pro governo não é droga, vai lá fora e vê sua obra

Era família, paraíso, até surgir aquela cobra

Perdeu todo o juízo, já nem sabe onde mora

Esquecido e faminto, falta comida que te sobra

Até sabem do perigo, mas parente sempre esnoba

Minha liberdade é presídio em meio àquela obra

Me abandonam nesse vício, a saúde que me rouba

Vomitando sangue aos quilos, mesmo assim ninguém apoia

Não sei pra onde vou, não sei o que fazer

Só quero que você me ajude, por favor

Não sei pra onde vou, não sei o que fazer

Só quero que você me ajude, oh meu Senhor

“Alguém chama a Samu!” Vai lá, faz a frente...

“Esse tipo, o que importa? É só um indigente

Rato de laboratório conservado em aguardente”

Teu desprezo é notório, muito acima desta gente!

Saco aposentadoria pra sustentar essa maldita

Destruição que financia, minha dignidade interdita

Só penso na Patrícia, mas essa dama me humilha

"Ali no chão tem um trapo, já chama a perícia!"

Pra apurar esse fato e acrescentar na estatística

Me sinto derrotado, minha situação agora é crítica

A maioria nem percebe que só preciso de afago

A sociedade não me insere, nem um tipo de amparo

É pulga, é carrapato, é piolho, infestado

No cobertor bem abafado, um fedor que nem comparo

A propaganda influenciou e derrotou este indivíduo

Abandonado, excluído, vítima do capitalismo

Não sei pra onde vou, não sei o que fazer

Só quero que você me ajude, por favor

Não sei pra onde vou, não sei o que fazer

Só quero que você me ajude, oh meu Senhor

Esse drama repetido, muitas vezes eu assisto

O marketing proibido, muito tarde para isso

Samba, amigos, felicidade, mulheres lindas. Fictício

Achou na comunidade seu cenário mais propício

Como sempre prejuízo é pro mano que mais trampa

Pra esquecer do seu serviço vai na pura ou no samba

"Pois aqui é nóis que manda, se pá até acampa

Na manhã ninguém suporta o cheiro que emana"

É a relva no começo, no mato se embrenhando

Me perco, nem percebo, juventude se afundando

Então olhe aqui pra mim! Deveria ser exemplo

Não quer terminar assim? Então fica mais atento

Pois vem de teus parceiros aquela primeira dose

Forço a mente pra lembrar enquanto coço minhas micoses

Do meu primeiro porre, no passado, diversão

No futuro uma cirrose, no presente solidão

Não sei pra onde vou, não sei o que fazer

Só quero que você me ajude, por favor

Não sei pra onde vou, não sei o que fazer

Só quero que você me ajude, oh meu Senhor

Estou sozinho aqui, tio, com frio, sentindo dor

A lembrança me abala, minha casa, meu Senhor

Quando olhos as pessoas, lá à toa, pura felicidade

E pra mim resta tristeza, só tristeza e a saudade

Luciano Pétersen
Enviado por Luciano Pétersen em 19/05/2017
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