CABELO CRESPO

Ontem fui assaltado

Um irmão de cor veio me ajudar

Confundido foi baleado

E o outro, usurpador, conseguiu escapar

Quanto mais eu vivo menos compreendo

Nasci e cresci com o ódio corroendo

Vi a covardia

Vi a minha raça trabalhar de graça

Construindo prédios, morando na praça

A face fria

Quanto mais trabalha, mais o corpo falha

Fabricando espuma, dormindo na palha

Quanta agonia!

Quanto de absurdo existe nisso tudo?

Construindo escolas, indo sem estudo

Quanta ironia!

Mas quem não tem eira

Agradece a beira

Fabricando carros, subindo ladeira

E as seis, Ave Maria!

Levando água limpa pro doutor maroto

Vendo sua filha brincar no esgoto

É judiaria

Recebe a promoção o irmão do meu patrão

Tapinha nas costas é o meu quinhão

E marmita fria

E segue minha raça na escravidão

O mínimo é o máximo de poder em suas mãos

E bolsa família

O que você faz da vida

Qual seu nome mesmo

O quanto ameaça um cabelo crespo, hein dona polícia?

Vamos dar uma pausa, não leve a mal

Um dia tudo muda de forma normal

Mas agora...

Agora é carnaval

É só folia

Só Alegria

Esquece, esfria

Agora é carnaval

Axills
Enviado por Axills em 27/02/2017
Código do texto: T5925767
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