BISCOITOS VIRTUAIS

Ecoo a frase do escritor Oswald de Andrade sobre os seus poemas.

“A massa ainda comerá o biscoito fino que fabrico”.

Mas eu não produzo biscoitos,

eu imagino caveiras

surgidas do cristal

que adornará bolos de festa

e prosas poéticas.

Atiro ossos de açúcar

nas cavidades do texto

até compor o fêmur doce

que junta os sonetos.

Encaixo vocábulos

e na combinação

faço surgir versos marcados como:

“ Vejo a ferida na cadeia digital,

porque estamos com o dedo

no século 21

e mal soltamos poemas,

criaturas intangíveis

na realidade virtual

dos “Pokémon Go".

Contudo, um dia ainda veremos ,

quando a essência da poesia raiar novamente,

e as crianças não forem mais

softwares aplicativos;

elas realizarem tarefas poéticas

de um mundo outra vez infantil:

“Ciranda, cirandinha,

Vamos todos cirandar...

O anel que tu me deste

era cifra e se ocultou.

O amor que tu me tinhas

era arquivo e não download”.

DO LIVRO: "O ÚLTIMO FOGUETE

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 19/10/2017
Reeditado em 06/11/2022
Código do texto: T6146738
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