o monstro do pântano e o amor infeliz

Havia um monstro das trevas naquele lugar onde morava Cecília, a mulher que se apaixonara ao vê-lo vindo em sua direção e mostrando a sua forma horrível: Ela era bela, loira e de olhos azulados como o céu, mas ele não ligava para as suas curvas ainda, pois acreditava ser incapaz de amar! Mas ela tocou seu rosto e el a olhou admirado, depois fugiu assustado com o que poderia acontecer.

Já na segunda vez em que se encontraram, ela o chamava: "-Monstro das trevas!" Era um apelido carinhoso. E ele apareceu com seus olhos negros, seu rosto deformado e sua corcunda horrível! Ele a olhou e disse: "-Vens comigo!" E mostrou um lugar maravilhoso: Uma queda d'água repleta de verde e esplendor de uma natureza ainda virgem, ela atravessou as águas seguindo o monstro e entraram na casa do 'ser das trevas': Era cheio de objetos velhos e já sem utilidade. Ele pegou um colar velho de ouro e deu a ela, dizendo: "-Com todo o coração!" E ela foi-se.

Passaram-se seis meses e ela já não o via. Então procurou o pai dela e disse que tivera um amigo imaginário da floresta e que queria saber como encontrá-lo. O pai chamou um índio amigo da família que tinha ares de curandeiro e começou a tratá-la e entendeu que ela vira o monstro das trevas. E ele explicou ao pai dela que havia rumores de que mais de trinta pessoas sumiram nos últimos anos e diziam que foram mortas pelo monstro das trevas. O pai pediu para um caçador de seres das trevas procurar pelas matas pelo monstro sem o consentimento da menina. E ainda pediu para um policial investigar o caso e proteger a sua filha.

Certo dia, ela sonhava e viu um anjo que explicou para ela que o monstro das trevas era mau, mas se apaixonara por ela e ela por ele. Ele jamais fora amado ou ousara amar. Ela tinha que encontrar a resposta entre os mestres da fantasia.

Quando Cecília acordou, tomou banho e vestiu-se, ao sair do quarto, viu o policial e pediu explicações ao seu pai. E este disse: "-Filha, com um monstro das trevas à solta, não posso bobear!" E ela saiu correndo e chorando pela floresta até o penhasco: Olhou a queda profunda e fez menção de pular, mas surgiu um fauno com rosto de cabra, chifres de bode, pescoço e tronco de folhas e casca de árvore, braços de uma pelugem branca e pés de bode. Ele disse: "Não puleis, menina! Eu sei o caminho para onde quereis ir!" E ela afastou-se do penhasco e disse: "-Levar-me-ias lá?" "-Sim! Venhas!" Ele a levou por uma trilha cheia de musgos e plantas até uma gruta e entrou, seus olhos brilharam na escuridão e disse: "-Passai e buscai!" E desapareceu. Ela o seguiu e deu numa árvore iluminada por uma fogueira. E a árvore perguntou: "-Para onde irias?" E ela disse: "-Falar com os mestres da fantasia!" E a árvore sorriu, "Sou a guardiã dos mestres da fantasia! Entra!" E abriu-se uma fenda na árvore pela qual ela passou.

Do outro lado, havia uma ponte guardada por um duende que disse com uma espada em punho apontada contra ela: "-Pague e passarás! Só aceito ouro!" E ela deu o colar que o monstro das trevas lhe dera. E ela passou: Do outro lado, havia um grupo de homens verdes conversando e eles olharam-na de cima a baixo e disseram: "-O monstro das trevas está abaixo da Terra: Entre o assoalho do seu quarto e a fundação da casa!"

Quando ela acordou do sonho, viu que havia um policial, mas ignorou. Abriu um buraco no chão e viu o seu amigo enamorado. Eles se olharam e assim ela passou a visitá-lo e fingir obedecer ao seu pai. E passou-se dois meses.

Os rumores de que o monstro das trevas seguia Cecília atraiu um cientista que acreditava no mito e tentava classificar essa entidade na escala biológica. E o pretendente de Cecília foi chamado para lha fazer companhia e esquecer o monstro tão próximo dela. Ela o tratava com antipatia e fugia de momentos de clima. E havia um mal funcionário que cuidava de fazer os caprichos de Cecília e que sentia secretamente desejo por ela, muitas vezes fazia coisas que ela não pedira e brincava, embora fosse sério: "-Tudo pela minha princesa!" Quando ela queria fugir de todos, procurava o seu amigo poeta, vizinho da fazenda para ouvir versos que ele fazia, como:

"O nosso amor é como o fogo da paixão,

Não há motivo para queimar o dedo,

Mas exerce uma força incondicional

Que faz chorar a eternidade do coração,

E por isso eu escrevo aos olhos por medo:

Não quero ver esse monstro tão mal,

Ele pode te amar nas escondidas e nos

Esconderijos do Céu, nas grutas, nas

Cascatas, mas um dia, quando nu,

Ele se voltará ao animalesco, má

É a sua ira e pior o seu mal, porém

Vocês se amam e isso também passa,

Se um dia, quem sabe, os dois vem

Mo visitar, seja ela a chama a queimá-lo a caça..."

Ela olhou triste e disse: "-Até você me trai!" E fugiu de volta para casa.

Ela pediu consentimento ao seu pai e foi visitar o primo da cidade, e sua tia, mãe dele , e passou três dias durante os quais foi explicando o seu amor verdadeiro pelo monstro das trevas. O primo achou criancice, mas a tia explicou para ela que ela estava entrando na puberdade e que iria ter muitos amores mais. Ela sempre os ouvia e voltou para casa diferente.

Até seu professor , pensava Cecília, explicava o amor como passageiro e vário.

Ela continuou a se encontrar com o seu amante subterrâneo até que conseguiram capturá-lo e mostraram o monstro para toda a cidade, zombaram dele, classificaram ele como um animal de inteligência sonora. Depois o trancafiaram numa cela de circo e passaram a zombar dele. Ela fez escândalo, mas, depois de muito insistir, o pai deixou-lha visitar o seu amigo. Mas, após ela ver o show várias vezes e o seu amigo sendo humilhado, ela deixou de amá-lo e passou a ter pena dele. Ela o esqueceu após dois meses e nunca mais o procurou e ele passou o resto da vida assim e morreu dez anos após de tuberculose!...

Ulisses de Maio
Enviado por Ulisses de Maio em 27/08/2017
Código do texto: T6096520
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.