Os meus, os seus e os nossos


Anos depois...


- Mamãe! O bobão do Mi jogou a bola na minha cabeça!

- Nossa, Nana! Como você é chata! Eu vou é brincar com o Pingado. Tchau!

- Meninos, comportem-se.

Uma figurinha de cabelos escuros correu pela praia, atrás de nosso cachorro de estimação da raça são bernardo que era quase da mesma altura de Miguel. Eram inseparáveis. “O melhor presente que eu já ganhei na minha vida, papai!” – Ouvimos de Miguel no dia que chegamos com Pingado em casa. O nome foi uma mistura de Pingo (escolha de Jade) com Melado (escolha de Miguel). Para não dar briga, sugeri “Pingado” e eles adoraram. Na época o cachorro tinha pouco mais de 1 ano e ainda era menor que nosso filho. Miguel agora tinha 7 anos, Jade recém completará 5. Eram parecidos na personalidade e diferentes fisicamente. Ela continuava sendo a minha cópia, e ele a do pai. Ela era enérgica e esperta, como o irmão, e por mais que brigassem, não se largavam.

As férias em Santa Catarina estavam sendo ótimas. Planejamos por 2 anos, e só conseguimos agora, por conta do trabalho na confeitaria. Isso porque Michel ainda insistiu muito que precisávamos de um tempo com os meninos. E era verdade.

- Demorou, hein? – Michel comprou 2 águas de coco no outro lado da praia, pois por incrível que pareça apesar do clima quente que fazia, não havia um vendedor disponível.

- Ah, o vendedor da água de coco estava sendo muito disputado. – Me passou um coco e se sentou na cadeira de praia dele. – E os meninos?

- Ali! – Apontei para a frente, próximo ao mar com maré baixa onde Miguel e Jade brincavam na companhia de Pingado.

Como era dia de semana a praia se encontrava com pouca movimentação de banhistas. As vantagens de viajar fora de época continuavam sendo infinitas.

Jade pegou a bola que estava próxima de Pingado e jogou na cabeça de Miguel, se vingando do irmão. Quando viu que ele não deixaria barato, saiu correndo acompanhada de seu fiel escudeiro de quatro patas.

“Volta aqui Barbie magricela!!”

“Vem me pegar cabeçudo!”


- Você está pensando o mesmo que eu? – Perguntei a Michel, olhando Jade se desviar de uma bolada do irmão. Pingado pulava e latia, enlouquecido com a briga de seus donos.

- Sim.

- É.

- Eles vão nos dar muito trabalho. – Michel observou, tomando sua água de coco. – Muito mesmo.

- Demais.

Algum tempo depois, cansados de correrem um do outro, Miguel e Jade passaram a correr juntos, agora competindo. Não iam muito longe, pois quando chegamos, os alertei sobre os perigos de se afastarem de nós.

- Mamãe! Papai! Olhem para nós! – Miguel chamou nossa atenção. E então eu tive aquela sensação de déjà-vu, como se já tivesse visto essa cena antes. E na verdade já tinha, num sonho meu. Só que dessa vez não tinha angustia ou qualquer sentimento ruim, mas sim uma satisfação imensa em ver que eu tinha conseguido tudo o que eu queria da vida.

- Papai! Vem correr com a gente! – Jade chamou, e como o pai babão não resiste aos pedidos de sua princesa, correu até os dois. – Vem mamãe!

- Já vou, amor!

Precisei de mais alguns minutos para observa-los. Era a cena mais bonita que eu já tinha visto na vida. Percebi então que não tinha mais nada a pedir,
 somente agradecer por ter me dado a chance de ver nos meus filhos e no amor da minha vida a oportunidade ser feliz pelo resto da minha vida. Agradecer, agradecer e agradecer.


A vida pode ser muito bonita as vezes.
 

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 25/01/2017
Reeditado em 19/06/2022
Código do texto: T5892096
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