As aventuras de Plinc

Sabe o que são aquelas coisas brilhantes no céu à noite? Se você acha que são estrelas, você está muito enganada. São fadas... Que voaram alto demais e ficaram presas. Não acredita em mim? Tenha um pouco mais de fé. Fadas são criaturinhas peculiares, vivem escondidas de baixo da cama, atrás do pote de açúcar, dentro das gavetas de roupas. Se você tem uma delas por perto, saiba que é sinal de boa sorte, elas só vivem perto de pessoas positivas e felizes. As pessoas negativas, bravas e tristes só atraem coisas ruins, entre elas gnomos da terra, serezinhos feios e fedidos, mais parecidos com um monte de esterco. Adoram comer fadas, olha que absurdo, dizem que tem gosto de tutti frutti.

Ter amizade com uma fadinha não é algo muito simples, elas são tímidas e ariscas, se aproximam das pessoas por poucos motivos, um deles é o amor, mas dificilmente isso acontece. Quando acontece, é algo extremamente meloso, se você já viu alguém numa paixão platônica, ou já amou platonicamente, faz uma ideia do que seja.

Plinc media male má duas polegadas, se não fosse a estatura, certamente a confundiria com uma mulher, é claro, uma mulher de asas de borboleta. Vivia em um jardim de tulipas, adorava o cheiro das flores, o pólen é sua comida favorita, além de mel e açúcar. Fadas se reproduzem muito pouco, são aproximadamente quinze crias a cada primavera. Plinc era a mais nova da ninhada, achava que não recebia a atenção que merecia, dizia que Plonc era o favorito do seu pai, Ploc, mas ele dizia que amava todas de maneira igual. Quando Plinc colocava uma ideia na cabeça, nada conseguia tirar.

Andando distraída colendo pólen, a pequena fadinha foi atingida por uma cascata d’água, irritada com aquilo se esqueceu de se esconder. Sua ira era fervorosa, mas para um humano era a coisa mais graciosa do mundo. Quem regava as plantas era a Dona Fátima, uma senhora de oitenta e poucos anos, cabelos brancos, corpulenta e óculos fundo de garrafa. No primeiro momento achou que era abelha a atacando, mas quando percebeu do que se tratava, ficou admirada, estupefata.

- Olá, fadinha! – Disse a senhora toda sorridente.

- Você jogou água em mim! – respondeu a fadinha, mas foi “zum zum zum” que a velha entendeu. Plinc era pequena demais para que sua voz chegasse aos ouvidos de Dona Fátima. Então resolveu chegar mais perto.

- A senhora me deve desculpas, me molhou de cabo a rabo, nem sábado é! – Me esqueci desse pequeno detalhe, fadas tomam um banho por semana, isso por que são obrigadas, todos os sábados se reúnem num lugar secreto e dançam, festejam até o dia amanhecer.

- É uma fada, ou é um porco? – A velha jogou a cabeça pra trás e caiu na gargalhada.

A fada voou longe. Plinc ficou extremante irritada, mas a velha ao perceber a barbaridade que fez, recolheu-a com as mãos, do mesmo jeito que se pega água de um rio.

- Me desculpe, fadinha, sou muito distraída. Qual o seu nome?

- Me chamo Plinc, filha de Ploc, neta de Plum. – A velha deu uma longa risada.

- Plinc, Ploc, Plum, até parece uma música! – A fadinha ficou séria. – Acabei de fazer um bolo com calda de caramelo, quer um pedacinho?

- Sim! – Não existia mau humor para tal iguaria.

Dona Fátima a levou para dentro. Sua casa era grande e confortável, tinha cheiro de limpeza, mas isso não era do agrado de Plinc que vivia na poeira.

Uma colherada de bolo era o suficiente para alimentar fadas por um mês, porem a velha senhora deu lhe logo um pedaço caprichado, do tamanho de uma maça.

Comeu, comeu e comeu, até que ficou do tamanho de uma rolha, mal conseguia bater suas asas.

- Quer um pouco de leite com açúcar? – A velha parecia saber do que Plinc gostava, não houve recusas.

O tempo foi passando e fada já havia se esquecido de que um dia teve uma casa. Sentia-se à vontade, nunca tinha feito amizade com um ser humano, muito menos um ser humano tão bondoso. As pálpebras de Plinc pesavam, um forte sono lhe abateu, escolheu canto entre as frutas da fruteira e dormiu.

A pequena fadinha acordou assustada, não lembrava a onde estava e o que fazia lá, olhou para os lados e viu suas asas presas com tachinhas, pobre criaturinha, uma armadilha fora armada para ela.

A velha senhora apareceu sorridente como sempre, agora o seu sorriso não era mais divertido, era enfadonho e perverso. Você sabe o que é ser perverso? NÃO?! Uma pessoa perversa só sente prazer em fazer maldade, como puxar o rabo do gato, atirar pedras em passarinhos e esconder o controle remoto da tv.

- Só não come as paredes por que não são feitas de chocolate. – Disse a velha com sua gargalhada maligna.

Plinc estava desespera, quais perversidades poderia esperar daquela mulher? Olhou em volta e viu coisas que fada nenhuma gostaria de ver, viu fadas presas em quadros, com etiquetas, assim como em uma coleção, fadas são seres livres, é um verdadeiro crime prender uma, imagine várias.

Plinc já ouvira falar sobre bruxas, eram umas das historias que seu pai contava que te davam mais medo. As bruxas são geralmente descritas como mulheres feias e verruguentas, que se vestem de pretos e tem os cabelos encardidos. Percebeu que nem todas eram iguais, praguejou sobre si mesma, como poderia ter confiado num ser humano? Nenhuma fada poderia confiar em um ser humano, nem humano confia em outro ser humano.

Passa hora, duas, três, ou sei lá quantas horas, chegou a noite e acabou o dia e nossa fada cansada dormia. Desistiu de brigar, não sabia por quem gritar.

“Acorde, acorde!” quem dizia? Acordou a fadinha. Abriu os olhos e viu seu pai, todo assustado “você demorou e eu vim te procurar”. O senhor Ploc libertou a filha, deu um forte abraço “não faça mais isso!”. Voou rápido para salvar as outras, estavam fraquinhas e chorosas, mas tinham forças para ajudar as outras a fugirem, em menos de minutos estavam todas soltas. A velha apareceu na porta com um mata pernilongos elétrico na mão.

- Pra onde pensam que vão? – Seu rosto não aparentava gentileza e nem calmaria, estava raivoso, soltando fogo pelas ventas. Seu corpo enorme tapava a única porta aberta, não tinham para onde fugir.

Plinc, a fadinha mais corajosa que você já conheceu, gritou para as outras:

- Todas unidas somos um! Atacar! – Mais parecia um enxame de abelhas selvagens, atacaram o rosto da velha com mordidas e beliscões. A bruxa ficou desnorteada, não sabia o que fazer, golpeou a si mesma com a raquete elétrica, as fadas saíram da frente e escaparam do perigo. A megera caiu no chão com seu rosto todo vermelho, ganhara feias cicatrizes.

Bem longe dali, na toca das fadas, um grande festa de comemoração acontecia, regada a mel e pólen. Plinc aprendeu uma lição muito importante nesse dia, que a confiança é dada para poucos e que seu papaizinho a amava muito.

FIM.