A lição das borboletas

Um homem cultivava um grande jardim. Nele havia flores de todas as cores e de todos os aromas. Árvores frondosas protegiam as plantinhas da luz do sol e emprestavam seus galhos para os pássaros construírem seus ninhos. Todas as manhãs, as aves anunciavam em concerto o nascer de um novo dia. Caminhos de pedra branquinha passeavam por entre as plantas, como que admirando a sua beleza.

O jardineiro nem precisava sujar as mãos de terra, pois tinha um grande poder mágico. Um simples estalar de dedos poderia fazer surgir uma flor ainda mais bela do que todas as outras que perfumavam o jardim. Mas ele gostava de plantar cada mudinha, regá-la todos os dias, controlar as pragas e admirar o seu crescimento. Uma nova flor que brotava era como um novo filho que nascia.

Para deixar o lugar ainda mais bonito, o homem fez surgir ali uma grande nuvem de borboletas. Mas ele era muito caprichoso: pensava que, para que as cores das borboletas combinassem com a beleza do seu jardim, elas deveriam ter as asas apenas azuis ou amarelas. Nenhuma outra cor; apenas azul e amarela eram vistas.

No começo, tudo ia bem, mas aos poucos, elas começaram a formar grupos de acordo com as cores de suas asas. Antes, elas se misturavam. Agora, formavam blocos ora azuis, ora amarelos. Em poucos dias, a situação piorou. Formavam apenas duas grandes equipes que competiam entre si. O jardineiro não gostou nem um pouco daquela competição entre a equipe azul e a equipe amarela. Não era isso que ele tinha sonhado para seu jardim quando criou as borboletas. Mandou chamar uma representante de cada cor e avisou que, daquele dia em diante, não queria vê-las competindo entre si, afinal de contas elas eram iguais. Se continuassem a se comportar daquela maneira, ele estaria disposto a aplicar uma lição que elas jamais esqueceriam.

Nos dias seguintes, observou que a competição realmente acabou. E a mudança foi para pior! As borboletas, com medo do castigo, passaram a se alternar no exercício de voo diário. Quando as amarelas estavam sobrevoando as flores perfumadas, as azuis pousavam nos galhos das árvores com as asas fechadas, privando o jardineiro de observar o balé das asas coloridas. Apenas uma cor era vista. No dia seguinte era a vez das amarelas tirar folga. E lá iam as azuis bailando sobre o jardim.

Ao ver isso, o jardineiro estalou os dedos. No instante seguinte, as borboletas perderam as asas e viraram uns formigões feios e desengonçados. As que voavam naquele instante, caíram desajeitadas sobre as flores. Nenhuma se machucou, mas todas ficaram sem entender nada.

Com o passar dos dias, elas começaram a se misturar. Sem as asas coloridas, elas não conseguiam manter a divisão. Como eram muitas, não havia como se reconhecerem mais. As asas as dividiam por cores. Só que agora não havia mais asas.

Então elas aceitaram a sua nova condição, rastejavam no chão e aprenderam a escalar os caules das plantas até chegar às flores. O movimento balançava os galhos, criando uma coreografia nos arbustos. As flores dançavam ao sabor do vento. Se não havia vento, dançavam também, embaladas pelo peso das borboletas sem asas.

Isso foi por pouco tempo. O jardineiro observou que, sem as cores das asas, elas se misturaram completamente. Já não havia dois grupos de borboletas amarelas e azuis. Havia apenas um único grupo formado pelos formigões desengonçados. E elas brincavam alegres todos os dias, livres daquilo que, ao mesmo tempo que as embelezava, as dividia. E o jardineiro concluiu que a lição tinha sido aprendida.

Caminhando pelo jardim, agitou os braços como se regesse uma orquestra, e com gestos estudados, restituiu as asas coloridas aos seus rebeldes insetos. Mas caprichou ainda mais desta vez: as borboletas agora exibiam orgulhosas as suas novas asas verdes, amarelas, brancas, vermelhas, azuis, violetas, pretas... Algumas tinham uma asa de cada cor. Outras exibiam mosaicos multicoloridos. Outras ainda mudavam de cor conforme o vento, o sol, a chuva ou simplesmente mudavam por mudar. E voavam graciosas, sem se preocupar com as cores que cada uma tinha, pois aprenderam que o que as diferenciava, na verdade deveria uni-las.

Debrito
Enviado por Debrito em 15/05/2017
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