A viajante do anel de sete cores aterrissou em terra firme na outra ponta do arco-íris. Dormia pesadamente, e, quando acordou; em sua volta, formigas trabalhavam para abastecer o celeiro. Emília deu alguns passos, sem direção, acompanhando com olhar atendo o deslocar de uma formiga operária. Adiante, a formiga parou exausta, cansada, talvez ferida ou doente, e   foi  levada por outra mais robusta, por longo percurso no caminho das formigas, que, para Emília, era apenas um mover de dedos. Em certo ponto, a formiga que prestava socorro parou, levantou as patinhas, esfregou os olhos e viu a menina como obstáculo quase intransponível, um gigante, que mais parecia  uma montanha de carne que lhe  poderia servir de alimento. ‘Nem pensar!’ Protestou Eco, a formiga inteligente: ‘Comer a  viajante das estrelas seria declarar guerra aos humanos...’ ‘Tem lógica’, concordou Logia. Emília entendeu e afastou-se um pouco. A formiga entrou no formigueiro. Minutos depois, um exército de formigas surgiu na porta do palácio real e anunciou a festa de recepção ao filhote de homem.  Bethowver , a formiga cantora, entoou uma música mágica, e a partir de então, toda a comunidade se comunicou com a visitante em linguagem universal — a música.
Emília queria conhecer o palácio,  a rainha e os outros membros que fazem a segurança da colônia.
— Impossível —  protestou o comitê de acolhimento — a rainha não se afasta do trono, nem o visitante pode passar pelo portão real.
O portão é pequeno demais. Emília não podia entrar.
— Posso fazer alguma coisa — interveio  o mágico do palácio — e no dia seguinte, Maria Emília conversava amistosamente com a rainha, dentro dos domínios de sua alteza, a rainha MIRM, graça a uma porção mágica que reduziu o tamanho de Emília.
Passaram-se vinte anos no calendário das formigas, quando a menina manifestou o desejo de voltar à casa dos pais. Na verdade no calendário dos homens, ela estava desaparecida há pouco mais de quinze minutos.
Com este trabalho sobre mirmecologia, a formiga Bethowver alcançou a nota mais alta da sala.
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Adalberto Lima, trehco de "Estrela que o vento soprou".
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