Requiem por Rodriguim

Pritim, feito alguns irmãos de ninhada, ele acompanhou a mãe galinha Fran Cisca enquanto pode. Praqui, prali, parlá, na faina cotidiana, de buscar suplementos protéicos, embora o milho de cada dia lhes fosse fornecido em doses até generosas.

Rodriguim, contudo, não teve a sorte de sua irmandade de nascer com um bico regular. A parte superior se prolongava bem além da inferior e isso lhe dificultava sobremaneira segurar o grão para mandá-lo pro papo.

Salvou-o porém da inanição o mateiro-obreiro Jandir que, com o uso de objeto cortante operou o bichinho, aparelhando-lhe como um quintaleiro Pitanguy, as duas pontas do bico.

Mas Rodriguim teve um retardamento em seu desenvolvimento. As asas pareciam estender-se para além do comprimento de seu corpinho, e começavam a baixar-se.

Rodriguim, divagazim, não conseguia mais acompanhar a tropa, mas não desistiu de viver. Miidim feito ele só, vazou da cerca do aviário para o convívio conosco, e até nos olhava já como amigos, sem perigos, zanzando pelo quintal humanizado. Foi fotografado e parecia até fazer pose a cada tomada. E apenas fingia que de nós fugia quando alguma tentativa de tE-lo em mãos ocorria.

Hoje viveu seu dia final. Diferentemente de Pretty e Mel, que se acostumaram com sua presença, Pirka, a cadela de instinto caçador que parecia vir tolerando as vagrâncias de Rodriguim, numa zoeira, típica de sua raça abateu-o de um golpe, uma bocaça.

E nem vai precisar agora que Pedro lhe abra a porta celestial. Numa frestazinha ele passa. Vai ver até que perdoa algoz dona desse sentido atroz.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 23/04/2017
Reeditado em 23/04/2017
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