A magia da infância.

Quando a noite chegou, eles não conseguiram dormir. Os dois irmãos, de 13 e 10 anos, não sossegaram. Estavam agitados demais.

— Filhos, percebem que o dia já terminou? É muito tarde, vamos para a cama. — disse a mãe dos meninos.

— Por favor, mamãe! Não queremos perder tão precioso tempo dormindo. E além do mais, não estamos cansados. Podemos ficar mais um pouco? — insistiu o mais velho com cara de "anjinho".

— Por favor, por favor, por favor! — choramingou o mais novo.

— Não! Chega de argumentos e vamos para a cama. — ordenou a mãe em tom de conversa encerrada.

Com ar de “faz de conta que concordamos”, os meninos se dirigiram para o dormitório acompanhados do olhar imperativo da mãe.

— Vamos, meninos! — ela falou tentando convencê-los. — Amanhã o galo canta cedo.

Depois da oração, a mãe se despediu, reduziu a iluminação e fechou a porta do quarto atrás de si. Ainda com as costas coladas na porta, procurou ouvir os filhos. Silêncio total! Os danadinhos esperaram mais alguns minutos, pois conheciam o hábito da mãe, e...

— Iuuupiiii! — cambalhotas, guerra de travesseiro, esconde-esconde no armário, teatro de sombras na parede, mímicas e... Ufa! Que susto!

Uma grande e ruidosa sombra passou em frente da vidraça.

— Viu aquilo, mano?

— O quê? — olhou o irmão mais novo aonde o outro apontava.

— Uma sombra! Ela passou em frente da janela. — explicou assustado o mais velho.

— Não vi sombra nenhuma! — na verdade, eu nem estava olhando. — Deve ser a reprodução do dinossauro no teatro das sombras.

Intrigados, os meninos permaneceram calados por alguns minutos. Mas a vontade de brincar foi maior. Esqueceram a sombra e voltaram às prazerosas atividades.

— Venci a batalha! Derrubei o soldado no forte da trincheira. — anunciou o irmão de 13 anos, ao acertar e derrubar com o travesseiro o pequeno combatente.

— Você não perde por esperar, soldado! — falou entre dentes o outro, por se ver em desvantagem. E disparou os dardos de espuma contra seu opositor. — Livre-se da chuva de meteoro, se for capaz.

As horas que se seguiram pareceram não ter fim.

Depois de muita brincadeira, ambos cansados, mas felizes, foram para a cama. E quando o sono deveria se sobrepor ao cansaço, a imaginação acionou o dispositivo para outros divertimentos.

— Você consegue ver o que vejo, mano? — perguntou o mais velho.

— Depende! Diga-me o que está vendo e eu digo se vejo ou não.

— As letrinhas acompanhadas de números, de figuras e de... fadas, duendes e personagens de livros e filmes.

A riqueza de detalhes que o irmão mais velho usou nos relatos permitiu que o pequeno aventureiro também vislumbrasse o mundo mágico que foi surgindo com o aflorar das ideias.

— Veja! No lado esquerdo do teto, a batalha entre o robô de sucata e os carros. Eles lutam pela conquista de maior espaço no pátio da fábrica de brinquedos. E as letras do alfabeto que, com chapéus de jornal, marcham em filha indiana para participar do concurso de história do livro imaginário. — relatou entusiasmado o menino de 13 anos.

— Legal! Mas olhe, na parede ao lado da janela, o teatro de sombras dos pássaros e das borboletas. — falou nostálgico o menino de dez anos. —Parece que, quando voam, deixam suas cores na parede.

— Mano, agora vamos dormir? — Indagou com senso de responsabilidade o mais velho.

— Tá bom, tá bom! Já estou mesmo com sono. — concordou o mais novo.

E assim, já com os olhos pesados, mas com as lembranças dos personagens ainda vivos na imaginação, os meninos repassaram os acontecimentos vivenciados naquela noite. Depois, exaustos, dormiram, e sonharam... E nos sonhos, a eloquência fantasiosa do mundo da imaginação adormeceu com eles, para despertar no outro dia e começar tudo outra vez...

Colégio Lúdico Anglo/Conchas, 10/03/2017.

Valéria Nunes de Almeida e Almeida
Enviado por Valéria Nunes de Almeida e Almeida em 28/03/2017
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